O professor Guilherme Wisnik, em que pese as muitas homenagens a essa altura já feitas para Rita Lee, admite não poder deixar de registrar a importância “dessa líder, deusa do rock, pioneira, mulher afirmativa, desinibida, experimental, uma espécie de Dercy Gonçalves do rock brasileiro, de certa forma, do modo escrachado, despachado como ela falava, o modo como se apresentava, cabelo vermelho, óculos, as perucas. Eu me lembro de um show, nos anos 80, em que ela punha um aplique de peitos gigantes… isso são fantasias e isso vem, digamos, de uma desinibição, de quem está muito à vontade no show business, na cultura de massa, na composição de hits feitos para fazer sucesso, e essa foi a vocação dela”, diz Wisnik.
Ele traça um breve panorama da carreira da cantora e compositora, desde seu início nos Mutantes, com seu som experimental, até a explosão do sucesso solo e da parceria com Roberto de Carvalho, sem esquecer a participação na banda Tutti Frutti. Foi a partir do trabalho com os Mutantes que ela deu um outro rumo à sua carreira “e ganha a personalidade autoral, singular, que ela teve […] Caetano Veloso fala em Sampa, homenageando ela como uma dessas grandes personagens, ele diz ‘ainda não havia para mim Rita Lee, a sua mais completa tradução’; quando não havia, (não havia) no tempo do tropicalismo, isto é, aquela Rita dos Mutantes ainda era uma artista jovem, desabrochando; ela surge, ela completa a tradução depois, e essa completa tradução é que é essa filha de norte-americano com italiana, que tem esse ‘ôrra meu’ paulistano e, ao mesmo tempo, esse Lee Jones que leva ela ao rock […] então, essa é a Rita Lee que fez tantos hits de amor, baladas de pop rock com um toque erótico importantíssimo, que é um símbolo fundamental de libertação feminina. E de expressão da livre vontade de um comportamento que ela soube encarnar e afirmar a partir da sua persona artística para o Brasil e para o mundo”.
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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