Medicina nuclear traz novas perspectivas para análise e tratamento de doenças neurodegenerativas

Carlos Alberto Buchpiguel explica que exames da área também podem ser usados para diagnosticar epilepsias e AVCs

 26/08/2024 - Publicado há 3 meses

Da Redação

Os avanços ainda são limitados a centros de excelência e instituições com acesso a essa tecnologia de ponta – Foto: gorodenkoff/123RF

Nas últimas décadas, a medicina nuclear tem registrado avanços significativos no diagnóstico e tratamento de diversas doenças, incluindo aquelas relacionadas ao sistema nervoso. O uso de imagens moleculares e funcionais, que permitem visualizar processos bioquímicos no cérebro, abre portas para diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados. Assim, o professor Carlos Alberto Buchpiguel, diretor da Divisão de Medicina Nuclear e Imagem Molecular do complexo do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo, comenta sobre esses avanços e o impacto na saúde neurológica.

“A medicina nuclear tem evoluído para detectar, de forma totalmente não invasiva, ou seja, através de uma imagem molecular e funcional, o depósito de proteínas anômalas no cérebro e, com isso, detectar precocemente quem está desenvolvendo, que tipo e como são essas doenças neurodegenerativas”, explica. O especialista complementa que, com o avanço da medicina nuclear, há uma maior precisão e personalização da avaliação, não só através do diagnóstico histopatológico, mas com imagens capazes de definir as bases moleculares e o desenvolvimento de diferentes doenças, como Alzheimer e outras demências.

Tipos de exames

Um dos exames mencionados pelo especialista é a tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT), que utiliza radiofármacos para identificar anormalidades cerebrais. “Através da injeção de biomarcadores, conseguimos determinar se existe substrato anatomopatológico de uma determinada demência, por exemplo, que vai nos dar informação se existe uma proteína anômala, chamada proteína amiloide, que está depositada em grande quantidade no tecido cerebral de um paciente com Alzheimer. Isso nos permite confirmar um processo inicial de desenvolvimento de um quadro com antecedência”, afirma.
Conforme Buchpiguel, além dos biomarcadores de assinatura patológica — parecido com uma autópsia, mas com o paciente vivo —, esse exame também ajuda a identificar a disfunção sináptica, permitindo uma abordagem mais precisa e personalizada do diagnóstico. Este e outros exames — como o Spect — também desempenham papel importante no tratamento da epilepsia, localizando focos de atividade cerebral anormal que desencadeiam crises epilépticas, e na avaliação da irrigação sanguínea cerebral, essencial no diagnóstico e tratamento de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), permitindo a avaliação do grau de fluxo sanguíneo no cérebro, contribuindo para diagnósticos mais rápidos e precisos do que a ressonância magnética e a angiotomografia, mais comuns para essa finalidade.
Carlos Alberto Buchpiguel - Foto: Reprodução/HCFMUSP
Carlos Alberto Buchpiguel - Foto: Reprodução/HCFMUSP

Os avanços, no entanto, ainda são limitados a centros de excelência e instituições com acesso a essa tecnologia de ponta. No Brasil, o HCFM da USP tem implementado essas tecnologias, como afirma Buchpiguel, com uma unidade de produção de radiofármacos desenvolvida especialmente para pesquisas e atendimento ao público do Sistema Único de Saúde (SUS). “Nós temos toda a tecnologia embarcada, desenvolvida na Universidade de São Paulo, que hoje nos permite atender a uma população economicamente mais vulnerável. Isso não está disposto de uma forma universal, em qualquer outra instituição pública do País. Essa tecnologia também já está disponível na rede privada, em diferentes cidades do nosso país”, finaliza.

 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.