O Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP realizou a sua 500ª cirurgia de transplante pulmonar em dezembro de 2022. “Em 1990, foi o primeiro transplante feito aqui no InCor e, agora, completamos essa marca de 500. Foi muito bem, a paciente já teve alta e estamos bem felizes com o resultado“, conta o médico Paulo Manuel Pêgo Fernandes, diretor da divisão de Cirurgia Torácica do InCor.
O instituto foi criado a partir da realização de uma das primeiras cirurgias de transplante de coração do mundo e a primeira da América Latina. A cirurgia foi realizada em 1968 pelo médico e professor Euryclides de Jesus Zerbini. A categoria de transplante pulmonar foi concretizada em 1990, como conta o especialista: “Durante o início da década de 80, os transplantes de órgãos sólidos estavam sendo feitos com pouco volume no mundo inteiro, não só no Brasil. Nós retomamos o transplante cardíaco em 85 e fomos nos preparando para realizar o transplante de pulmão”. Fernandes participou, além da cirurgia de número 500, das operações iniciais do InCor, como médico recém-formado.
A 500ª cirurgia
Agora, a contagem está em 503, porém, a marca de 500 continua importante para a história do Instituto do Coração. A equipe chefiada por Paulo Fernandes, na ocasião, realizou um transplante bilateral, que envolve a retirada de ambos os lados por conta do comprometimento do órgão devido à doença. Nesse caso, a paciente possuía bronquiectasia, uma doença que causa infecções de repetição e até sangramentos, e exige um transplante bilateral: “Não dá para deixar apenas um lado por conta do risco de reinfecção”, explica o especialista.
O grau de complexidade de uma cirurgia bilateral é elevado, já que, como conta Fernandes, são quatro cirurgias em uma: “Você retirar um pulmão já é uma cirurgia grande; você transplantar o pulmão é outra cirurgia grande. Quando você pensa que acabou, agora você começa tudo de novo do outro lado. É feito de forma sequencial”.
Após o transplante
O cuidado com o órgão não para na mesa de cirurgia. Após a realização da operação, é preciso manter um acompanhamento constante para evitar a rejeição. A principal problemática são as diferentes imunidades de cada organismo, assim, o uso de imunossupressores se faz necessário: “Toda vez que você coloca um órgão que não é seu, existe uma tendência do organismo do receptor de rejeitar esse órgão novo. Para isso, você utiliza o imunossupressor: ele é muito bom nisso, mas ele diminui a capacidade de a pessoa reagir contra infecções diversas. A gente fica sempre nessa balança: se você dá muito remédio contra a rejeição, você aumenta o risco de infecção. Precisa ficar balanceando isso e fazer uma sintonia para que você consiga que não haja rejeição, mas, ao mesmo tempo, o paciente não fique suscetível demais a infecções”, explica o médico.
Pandemia
O InCor possui uma estrutura multiprofissional e investiu significativamente na área de transplante de órgãos torácicos. Entretanto, o período da pandemia da covid-19, sobretudo em 2020 e 2021, impactou todo o segmento devido à contaminação pelo coronavírus. “Teve um determinado momento que boa parte dos doadores estava contaminada, então a gente não podia utilizá-los. Em 2022, a gente retomou um pouco mais, mas, mesmo assim, ainda não voltou à meta histórica: a gente fez mais de 30 transplantes, o que é um número bem expressivo, mas a gente chegou a fazer quase 40. Estamos retomando e tem essa questão: de um lado o doador com covid e, do outro, o receptor que teve covid.”
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