A cidade de São Paulo foi fortemente impactada por chuvas intensas ao longo da última semana, resultando em alagamentos e transtornos significativos, especialmente nas regiões norte e oeste. Somente na última sexta-feira, essas áreas registraram um volume de precipitação superior a 100 milímetros em apenas duas horas, o equivalente a um terço da média esperada para todo o mês.
De acordo com Pedro Luiz Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, a tendência é de aumento na frequência e intensidade dessas chuvas. Segundo ele, dados do Instituto de Astronomia, Geociências e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, que monitora a precipitação desde os anos 1930, apontam um crescimento progressivo do volume anual de chuvas. Apesar de oscilações anuais, o padrão indica que hoje chove mais do que 80 ou 90 anos atrás.
Além do aumento do volume, a distribuição das chuvas tem mudado significativamente. Conforme o docente, não há mais a garoa típica de São Paulo, pois agora a chuva ocorre de maneira rápida, intensa e concentrada. Isso significa que alguns bairros são fortemente afetados pelo alto volume de precipitação, enquanto outros passam praticamente ilesos.
Propostas
Com uma região metropolitana que abriga mais de 20 milhões de habitantes, o impacto das chuvas se agrava pela infraestrutura urbana. “A cidade está sobrecarregada por concreto e asfalto, impedindo a infiltração da água no solo e direcionando tudo para as galerias pluviais, que não dão conta do volume”, aponta o professor. Ele defende a necessidade de soluções integradas, que incluam tanto infraestrutura cinza, como piscinões e ampliação das galerias, quanto infraestrutura verde, como jardins de chuva, arborização e áreas permeáveis.
Outro ponto crucial destacado por Côrtes é a eficiência dos sistemas de alerta. Na última sexta-feira, a Defesa Civil utilizou, pela primeira vez, um novo sistema de notificação emergencial que independe de cadastro prévio. No entanto, houve falhas na distribuição, já que muitas pessoas em São Paulo não receberam o alerta, o que pode estar relacionado ao modelo do celular ou às áreas definidas para envio da mensagem.
Para o especialista é necessário melhorias urgentes no sistema, como a ampliação da área de alcance dos alertas e mensagens detalhadas sobre as regiões afetadas. “São Paulo é uma cidade de grande mobilidade. Alguém que está na zona sul pode estar a caminho da zona oeste, sem saber que está entrando em uma área de risco”, alerta.
População
De acordo com o docente, há uma crescente conscientização sobre os perigos das chuvas extremas, mas ainda falta preparo adequado. Ele cita, como exemplo, as diversas placas espalhadas pela cidade que indicam áreas sujeitas a alagamentos, mas sem informações sobre rotas de fuga. Ele explica que, para quem desconhece as regiões, a falta de sinalização adequada pode levar a uma região ainda mais afetada.
“Para mitigar os impactos desses eventos extremos é preciso uma abordagem integrada entre prevenção e reação emergencial. Além de alertas eficientes e infraestrutura adaptada é essencial investir em soluções urbanas sustentáveis. Infelizmente, esse cenário tende a se repetir. As chuvas intensas estão se tornando cada vez mais comuns, e a cidade precisa estar preparada para enfrentá-las”, conclui Côrtes.
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