No século retrasado, os pensadores geniais definiram o estado como comitê que administra os negócios da burguesia. A ideia de Marx e Engels está expressa no Manifesto Comunista e na obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado. As relações íntimas entre a antiga burguesia e a riqueza continuam valendo, mas, se o manifesto fosse reescrito hoje, talvez definisse o Estado como comitê executivo não dos burgueses, mas dos muito endinheirados e parasitários. “Aquela burguesia laboriosa do século 19, que tinha sido revolucionária ao alavancar os meios de produção, atualmente, é só coadjuvante se comparada ao protagonismo do capital financeiro”, diz Marília.
Os donos do capital da modernidade trocaram os meios de produção pela especulação financeira e outros têm como hobby produzir naves espaciais. A antiga burguesia se ocupava da economia, enquanto seu sucessor a trocou pelo mercado, uma palavrinha enigmática definida por várias características exatas e dependente de vários fatores e infraestruturas da sociedade. “O fator esquecido pelos muito endinheirados, cujo aborrecimento é não saber onde colocar tanto dinheiro sobrando, é o “fator gente”, aquela turma gigantesca que vive de vender o único bem que possui: a sua capacidade de trabalho”.
“A série de humor negro Succession mostra as entranhas das relações promíscuas entre um grupo de mídia, políticos e canibalismo familiar”, diz a colunista. A série foi premiada e aclamada pela crítica, e não se trata de uma caricatura. “É tudo verdade nessa ficção que imita o real”, afirma. “Escrúpulo é sinônimo de ser otário; ter na mão vários políticos poderosos é indispensável; e a única agenda que vale é levar a melhor, isto é, quem vai ganhar a corrida da acumulação de dinheiro e poder”.
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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