O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, fez uma palestra nesta quinta-feira, 2 de maio, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O evento, que reuniu cerca de 200 pessoas, entre docentes e estudantes, integrou o ciclo O Futuro da Universidade no Brasil e teve como tema Os principais desafios das universidades no Brasil.
Ao longo da palestra, Carlotti traçou um panorama sobre os principais aspectos que a atual gestão tem buscado trabalhar. “Na graduação, temos feito uma série de propostas para tentar aumentar o tempo de formação fora da sala de aula tradicional. Em vários cursos, já diagnosticamos que existe um tempo excessivo sendo direcionado a aulas e assuntos que chegam a ser redundantes. Alunos acabam passando 40 horas semanais sentados em uma sala de aula, vendo e revendo tais conteúdos, e sabemos que é importante, também, permitir que esses estudantes tenham mais oportunidades de interação com outros assuntos, outros ambientes e com a própria sociedade”, afirmou, lembrando que, atualmente, há uma oportunidade em curso para ampliar esta interação: “Estamos trabalhando muito com a implantação da curricularização das atividades de extensão, que formaliza uma parcela de 10% das cargas horárias das disciplinas em atividades desta natureza, o que tem se mostrado um desafio, mas cujos resultados serão extremamente benéficos”.
Segundo ele, o trabalho da gestão passa pelo equilíbrio entre tradição e modernidade: “Temos cursos que são extremamente tradicionais e muito consolidados e reconhecidos em termos de qualidade, alguns entre os melhores do Brasil ou até do mundo. Então, não podemos simplesmente inserir mudanças que não se adequem a essas realidades e à forma como a comunidade acadêmica está trabalhando. É preciso respeitar este espaço, o que não significa que não possa haver mudanças e inovações”, comentou.
Carlotti destacou que a Reitoria tem estimulado a implantação de novos tipos de espaços físicos, outras configurações de sala de aula e mais laboratórios, além da criação de sete centros de estudos interdisciplinares, que possuem maior flexibilidade de ação por estarem fora da estrutura tradicional departamental. “Temos acompanhado a história de sucesso de diversos egressos da USP que se destacam no cenário nacional, e a trajetória deles na USP tem em comum o fato de terem extrapolado uma grade tradicional, nas salas de aula de apenas um curso. Eles buscaram contatos, conhecimentos e experiências em outros institutos e faculdades. Os jovens de hoje precisam de um olhar ampliado sobre o mundo, com maior flexibilidade e mobilidade”, disse.
Em relação à pós-graduação, o reitor apontou como maior desafio o tempo de formação, assunto que já tem sido foco da administração, com a proposta de uma redução: “Os novos professores que a USP contratou recentemente estão chegando com a idade média de 42 anos, praticamente 10 anos a mais do que a média mundial de um jovem docente recém-doutorado. Um tempo tão longo de formação na pós implica a perda de um período extremamente produtivo e criativo dos pesquisadores, e dados de países desenvolvidos, especialmente na América do Norte e Europa, mostra como é possível diminuir este tempo sem nenhuma perda de qualidade”.
O reitor ressaltou, também, o fato de a Pró-Reitoria de Pesquisa ter aglutinado a palavra Inovação, que passou a ser uma área adjunta do setor: “Trata-se de um aspecto essencial para as universidades do mundo atual, permitindo maior aproximação com as empresas e atraindo também estudantes com alto potencial que não desejam necessariamente seguir uma carreira acadêmica. Além disso, estamos criando novos espaços destinados às startups”.
Por fim, foram apresentadas as políticas de permanência estudantil: “A partir de 2017 começamos com as ações de inclusão bastante contundentes, e hoje já temos 50% das vagas reservadas para os alunos de escolas públicas, sendo que, destas, 37% são destinadas aos pretos, pardos e indígenas. Essas políticas, ao longo dos anos, têm se mostrado acertadas porque, ao contrário de alguns prognósticos, não implicaram redução da qualidade do ensino e da pesquisa, mas, ao contrário, têm ajudado a USP a melhorar, como vemos nos rankings internacionais, porque podemos contar com uma maior pluralidade de olhares e ideias. Por outro lado, o desafio é manter essas pessoas na Universidade e é nisso que estamos investindo neste momento, oferecendo uma série de auxílios e ações de pertencimento”.