
“O teatro é o ator e esse ator é um indivíduo, que precisa desenvolver uma autopercepção de si”, afirma o professor Antônio Januzelli, docente aposentado da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e especialista em preparação de atores para teatro. Ele, que ficou mais conhecido pelo apelido de Janô, é responsável pelo Laboratório Dramático do Indivíduo Ator, que tem como objetivo preparar o corpo, a mente e o emocional dos atores. Como resultado do processo que ocorre em seu laboratório, surge a peça Vagaluz, que estreia no Sesc Pompeia, em São Paulo, nesta quinta-feira, dia 6, às 21h30.
De acordo com Janô, a encenação que ele dirige é a última etapa de cinco anos de trabalho em conjunto com os atores Edgar Campos e Lídia Engelberg, que atuam na peça. “A dramaturgia foi sendo criada a partir das questões que surgiam nos laboratórios, das reflexões que propusemos durante esse processo de convivência”, afirma ele. A apresentação tem como elementos principais os dois atores alternando monólogos sob uma luz simples, e sintetiza um conjunto de cenas que desdobram-se a partir da reflexão sobre a finitude do ser humano, memória e esquecimento.

A peça está diretamente ligada ao tema das palestras ministradas por Janô, intituladas Presença e Transformação Para o Ator. “Nesse trabalho eu procuro levar o ator a se indagar sobre si mesmo em uma reflexão permanente, não só para sua atuação, mas também na vida real”, conta ele, que ao pensar sobre a presença e transformação do indivíduo está constantemente questionando sua consciência sobre si e sobre aquilo que o circunda. “Você está realmente onde você está ou só o seu corpo está ali, enquanto seu pensamento vaga por outros lugares?”

Embora seja essencialmente simples, com grande foco nos atores e suas vivências, a peça também apresenta certa interação com o público na medida em que estende as reflexões dos personagens ao público. “O final é mais uma conversa com a plateia mesmo, um momento de integração com a história além de tudo”, diz Janô. O texto, que fala bastante sobre memória, faz com que os espectadores passeiem pelas suas próprias recordações, complementando a dramaturgia.
Ainda segundo Janô, o teatro tem um histórico de luta e representatividade que às vezes as pessoas parecem esquecer. “A maioria de nós está adormecida diante de tudo que está acontecendo, na cultura principalmente; é como se todo esse histórico estivesse sendo destruído”, afirma. Para ele, estamos vivendo um período mais violento não só nas ações, mas principalmente nos discursos e por isso é necessário agir. A forma que ele encontrou para fazer isso foi através da sua arte e da sua profissão. “É como pensar que todo mundo está com o dedo no gatilho: se eu não atirar primeiro, você vai me matar antes.”

“A arte do teatro é o ator, é ele que constrói a cena por meio das suas expressões, mas quem é ele?”, diz Janô. O método utilizado por ele em seus laboratórios é o do questionamento para que o ator tenha consciência sobre si mesmo, seu corpo, seu pensamento e seus sentimentos. E, embora pareça muito individual, segundo ele, o teatro é essencialmente coletivo. “É a arte do corpo, a arte do contato entre os corpos.”
A peça Vagaluz, com direção de Antônio Januzelli, estreia nesta quinta-feira, dia 6, e fica em cartaz até 1° de março no Espaço Cênico do Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Pompeia, em São Paulo). As sessões ocorrem às quintas, sextas e sábados, às 21h30, e aos domingos, às 18h30. Os ingressos custam de R$ 9,00 a R$ 30,00.