Primaveras no caminho entre o bloco A e o bosque da FEUSP - Foto: Reprodução/FEUSP

Mostra traz o "Jardim das Curiosidades" da USP visto pelas crianças

Exposição virtual destaca as flores, árvores e gramados da Faculdade de Educação da USP - e sua função pedagógica

 07/04/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 08/04/2022 às 17:16

Texto: Mariana Carneiro

Arte: Guilherme Castro/Jornal da USP

No dia 30 de março passado, a exibição de um vídeo com uma entrevista gravada com a professora Myriam Krasilchik marcou a abertura da exposição virtual Jardim das Curiosidades, organizada pela Faculdade de Educação da USP. Primeira vice-reitora da história da Universidade, entre 1994 e 1998, ex-diretora e Professora Emérita da Faculdade de Educação, Myriam foi responsável, no início dos anos 90, pela implementação do jardim situado ao redor daquela unidade, espaço destacado pela mostra. 

Várias espécies de vegetais podem ser encontradas no local, como revela a exposição. Um exemplo são as primaveras, ou buganvílias, cultivadas nas pilastras ao longo do corredor que liga os prédios da faculdade — ideia que veio de Myriam, como ela mesma relata no vídeo, disponível no site da Faculdade de Educação. A professora, que na época ocupava a diretoria da faculdade, sugeriu o plantio de flores para tornar o caminho mais agradável e visualmente atrativo. A dificuldade para encontrar plantas cor-de-rosa e vermelhas, tons desejados por Myriam, fez com que a ideia se concretizasse somente após uma doação: a mãe da também professora Tizuko Morchida Kishimoto, que cultivava primaveras, forneceu as mudas. As flores assinalaram o início do projeto de elaboração do jardim.

Primaveras enfeitam o caminho entre o bloco A e o bosque da Faculdade de Educação da USP - Foto: Reprodução/FEUSP

Atualmente, as primaveras dividem espaço com brincos-de-princesa, mangueiras, paus-brasil, goiabeiras, pitangueiras e eucaliptos. No vídeo, a professora Myriam conta que as sugestões de plantas para ocupar o espaço partiram dos próprios estudantes, que o adotaram como ponto de encontro e confraternização. O jardim se tornou ainda uma área de aprendizado para as crianças da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação, localizada ao lado da unidade. A escola oferece ensino fundamental e médio a filhos de funcionários da USP e à comunidade externa, além de abrir vagas semestrais para a realização de estágios curriculares por estudantes de Educação. 

As visitas ao jardim fazem parte do projeto pedagógico de ciências naturais para o ensino fundamental I, fase que abrange estudantes do 1° ao 5° ano. “Os alunos frequentam o local com suas professoras para passear e distinguir as plantas”, diz a professora Martha Marandino, docente do programa de pós-graduação da Faculdade de Educação e vice-coordenadora da mostra Jardim das Curiosidades.

Martha lembra que, em 2019, para complementar o aprendizado, a instituição planejou instalar placas com informações sobre as espécies presentes no local: os letreiros apresentariam aos visitantes o nome, termo científico e características de cada vegetal. “Mas não queríamos fazer um emplacamento tradicional”, lembra Martha. “Envolvemos no projeto colegas do Instituto de Biociências da USP, que nos ajudaram a pensar e executar oficinas para os alunos da Escola de Aplicação. Eles conversaram com os alunos no jardim, contando as características das plantas enquanto as crianças faziam registros”, explica a professora. O resultado foi uma série de desenhos, apontamentos e impressões dos pequenos sobre as espécies vegetais observadas, que seriam incluídos nas placas informativas. 

Alunos da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação observam e desenham uma árvore do Jardim das Curiosidades – Foto: Reprodução/FEUSP

Desenho de Rafaela, aluna do Ensino Fundamental I, que retrata as primaveras do jardim da FEUSP. Foto: Reprodução/FEUSP

Desenho de Rafaela, aluna da Escola de Aplicação, que retrata as primaveras do jardim da Faculdade de Educação da USP – Foto: Reprodução/FEUSP

A iniciativa foi selecionada para receber financiamento da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, mas exigiu uma reformulação em 2020, após a interrupção das aulas presenciais por causa da pandemia de covid-19. “Transformamos a ideia inicial de emplacamentos na atual exposição on-line, utilizando as artes feitas por alunos nas oficinas de 2019”, destaca Martha.

No site dedicado à mostra, a navegação por um mapa interativo permite que o público conheça o ambiente do jardim e visualize suas diferentes espécies de plantas, indicadas por símbolos clicáveis. Cada botão dá acesso a uma placa virtual própria do vegetal, que apresenta seu nome e um desenho ilustrativo. Para se aprofundar, na aba Observações e Registros estão disponíveis perfis completos das plantas, que informam seu nome popular, nome científico e família. A página de cada espécie inclui, também, citações tiradas diretamente da fala das crianças.

Desenho e comentário de Theo, aluno da Escola de Aplicação. Foto: Reprodução/FEUSP

“[A amoreira] é muito grande, e eu fico do tamanho de um germe”

Desenho e comentário de Theo, aluno da Escola de Aplicação – Foto: Reprodução/FEUSP

Percepções e memórias

A exposição registra as impressões olfativas, táteis e emocionais das crianças, além de lembranças e outras percepções, quando em contato com o jardim. Na aba do site chamada Percepções e Memórias são reproduzidas falas e desenhos dos alunos: “Quando eu chego perto dela, fico bem calma e feliz. Quando eu estou triste, eu penso nela”, escreve a aluna Sophia sobre a planta milho-de-grilo. Outro estudante, Marcelo, conta que as roseiras do jardim o fazem lembrar de sua prima.

Flores milho-de-grilo, registradas em desenho pela aluna Sophia. Foto: Reprodução/FEUSP

Comentários dos alunos Antero e Sara sobre a planta jiboia – Foto: Reprodução/FEUSP

Os relatos de Myriam Krasilchik, como as lembranças do cultivo de primaveras que iniciou o jardim, também são recuperados pela exposição. O site reúne depoimentos da professora sobre a participação dos alunos de graduação na escolha das plantas, as atividades do Clube de Ciências e Matemática, que acontecem no gramado do jardim, e uma homenagem prestada à falecida professora Maria do Carmo Domite, da área de educação matemática, para quem foi plantada uma árvore grumixama. “Fizemos questão de entrevistar a professora Myriam porque ela teve um papel importante não somente na história da Faculdade de Educação, mas de toda a Universidade”, conclui Martha Marandino. 

A exposição Jardim das Curiosidades, promovida pela Faculdade de Educação da USP, pode ser vista através deste link.


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