Os personagens do Sítio do Picapau Amarelo saem das páginas de Monteiro Lobato para entrar em uma arena de rodeio na Agropeça, agora em cartaz no Sesc Pompeia, em São Paulo. O espetáculo comemora 30 anos da companhia Teatro da Vertigem. Antônio Araújo, professor do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e diretor do grupo, é quem concebeu a peça. O texto original é de Marcelino Freire.
Ao longo de 120 minutos, a peça aborda as interações da sociedade brasileira com o agronegócio, representado pelo rodeio de touros. Pedrinho, Tia Nastácia e Emília, respectivamente, fazem a narração dos três blocos que organizam a apresentação. O rodeio é inserido na história durante o prólogo, quando Pedrinho sugere realizá-lo aos outros personagens.
A ideia de criar um diálogo entre o Sítio e o reacionarismo do Brasil atual surgiu durante o processo de criação da peça. Araújo conta que Monteiro Lobato esteve presente desde o início, quando a companhia estudou o personagem caipira Jeca Tatu. Em um segundo momento, improvisações em torno da Emília foram feitas e a ideia de mergulhar nesse ambiente rural surgiu.
“Nós identificamos no Sítio do Picapau Amarelo uma visão de país que o Monteiro traz. Esse universo do Sítio tem um projeto de país embutido nele”, explica o diretor. O resgate desse mundo, no entanto, é feito com um olhar crítico. “No começo, a gente tenta ser o mais fiel à obra de Monteiro Lobato e, ao longo da peça, a gente vai revisitando os personagens à luz de questões atuais, como o racismo de Dona Benta”, complementa Araújo.
O Teatro da Vertigem é conhecido por encenar suas peças em locais não convencionais, como hospitais e igrejas. Desta vez, o público entra em uma arena de rodeio construída no galpão do Sesc. A recriação do lugar também tem significado. “Construir um espaço de rodeio que pareça de verdade, mas é de mentira, interessa para essa discussão do País em que a gente está hoje, em que não se sabe o que é verdade e o que é mentira”, conta Araújo.
O espetáculo não foi planejado para celebrar os 30 anos da companhia. A pandemia de covid-19 e dificuldades para obter financiamentos através de editais públicos atrasaram a realização da peça.
Abordar o espaço rural e o agronegócio foi uma ideia que Araújo teve no final de 2018. “Minha vontade apareceu nesse período da ascensão de Bolsonaro e, depois, com a eleição dele em 2019, eu falei: ‘Precisamos visitar esse universo’. E foi aí que veio a ideia de olhar pela estrutura de um rodeio”, detalha.
O espetáculo Agropeça está em exibição no Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Lapa, em São Paulo). A temporada vai até 11 de junho, com apresentações de quarta-feira a sábado, às 20 horas, e domingos e feriados, às 17 horas. Os ingressos podem ser adquiridos no site do Sesc e nas bilheterias de unidades do Sesc SP. Classificação indicativa: 14 anos. Mais informações estão disponíveis no site do Sesc.