O tamanduá-bandeira foi identificado pelo artigo e catalogado como espécie ameaçada de extinção – Foto: Cedida pela pesquisadora

Tamanduá, onça-parda, lobo-guará: diversidade de mamíferos em reservas no Cerrado paulista surpreende pesquisadores

Foram identificadas 20 espécies nativas do bioma. Levantamento pode ajudar na preservação da região

 27/04/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 29/04/2022 às 15:39

Por: Bianca Camatta

Arte: Rebeca Fonseca/Jornal da USP

Um estudo desenvolvido pelo Laboratório de Ecologia e Conservação (LAEC) da USP, em Ribeirão Preto, coordenado por Adriano Chiarello, catalogou dados dos mamíferos de médio e grande porte da Floresta Estadual de Cajuru e arredores. A região abrange uma área de conservação do Cerrado, bioma que tem apenas 7% de sua cobertura original no estado de São Paulo.  “Nós nos surpreendemos com o fato de a área amostrada por nós ser tão rica em espécies de mamíferos quanto a maior Unidade de Conservação de Cerrado do estado de São Paulo (a Estação Ecológica de Jataí) e seus arredores”, diz Marcella Pônzio, doutoranda do Instituto de Biociências (IB) da USP e primeira autora de um artigo com resultados do levantamento

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Foram identificadas 20 espécies nativas, número que abrange quase 50% de todos os mamíferos de médio e grande porte conhecidos do Cerrado. Os resultados também revelaram uma grande variedade de espécies nas áreas privadas, o que mostra que os animais não ficam restritos aos limites das áreas protegidas. “Essa riqueza de espécies similares reforça a importância da nossa área de estudo para a conservação de mamíferos de médio e grande porte, grupo animal severamente ameaçado pela ação humana, mas importante para o funcionamento dos ecossistemas”, complementa. 

Apesar da situação crítica desse bioma em São Paulo, pouco se sabia sobre as espécies que habitam o local. Essa escassez de conhecimento foi o que motivou o grupo a fazer o levantamento dos mamíferos de médio e grande porte da região.  

Junto à Floresta Estadual de Cajuru, um fragmento de vegetação nativa privada também fez parte da análise, a Fazenda de Alto Valor de Conservação Dois Córregos. “Nossa área de estudo representa algo raro no interior do estado de São Paulo: a união entre uma área protegida pública e uma particular”, conta ao Jornal da USP Marcella Pônzio. 

Mapa: Marcella Pônzio / Reprodução Biota Neotropica

Além dessa caracterização peculiar da área de estudo, outros fatores a tornam relevantes: a falta de um Plano de Manejo na Unidade de Conservação (UC) — documento oficial que estabelece as normas a serem seguidas na gestão de uma UC —, e a proposta de lei embargada pelo Ministério Público (lei estadual Nº 16.260/16, 29/06/2016) que pretende ceder a Floresta Estadual de Cajuru para uso privado ou exploração de serviços.

Já a escolha da identificação de mamíferos de médio e grande porte ocorreu porque esses animais são muito diversos tanto em relação ao seu tipo de alimentação quanto em relação às suas necessidades. “Vale a pena investigar como a comunidade de mamíferos está estruturada em uma área, pois ela tem o potencial de responder de diferentes maneiras às características naturais e antrópicas da paisagem”, esclarece a doutoranda. Esses mamíferos ainda são os mais sensíveis às alterações do ser humano na natureza. 

Os ambientes analisados pelo artigo também incluíram áreas agrícolas, pastagens e silviculturas – Fotos: Cedidas pela pesquisadora

Para identificar os animais da região, localizada no nordeste de São Paulo, os pesquisadores utilizaram armadilhas fotográficas — câmeras sensíveis ao movimento e ao calor: “Assim, uma foto é tirada cada vez que um animal passa na frente do equipamento”, explica Marcella. A identificação de pegadas, fezes e rastros de animais também foi um dos métodos usados para identificar os mamíferos. 

Os resultados e suas implicações

O controle de pragas e a dispersão de sementes são algumas das atividades que os mamíferos prestam aos ecossistemas e saber quais animais estão presentes ou não em uma área é importante para descobrir se esses papéis prestados por eles estão afetados.

Com a identificação dos mamíferos, também é possível entender quais espécies estão em risco e criar estratégias para protegê-las. O tamanduá-bandeira, a onça parda e lobo-guará, por exemplo, são espécies ameaçadas de extinção amplamente detectadas na área de estudo e, sabendo disso, é mais fácil encontrar maneiras de preservá-las.

Marcella Pônzio – Foto: Arquivo pessoal

As informações do artigo podem ainda contribuir para a elaboração de um Plano de Manejo e incentivar o cumprimento do Código Florestal pelos produtores rurais do Cerrado paulista. 

O lobo guará e a onça parda são animais em extinção que foram identificados pelas armadilhas fotográficas – Foto: Cedida pela pesquisadora

Além disso, o fato de o levantamento de mamíferos ter sido feito em uma região de conservação e também em uma área privada revela mais uma perspectiva: “nossos resultados demonstram que podemos ter um bom cenário de preservação da biodiversidade quando as reservas particulares são implantadas e conectadas às Unidades de Conservação existentes”, finaliza Marcella. 

O artigo intitulado Mamíferos da Floresta Estadual de Cajuru e arredores: uma Área Protegida negligenciada mas importante para a conservação do Cerrado no estado de São Paulo, Brasil foi publicado na Revista Biota Neotropica.

Mais informações: e-mail marcellacponzio@gmail.com, com Marcella Pônzio


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