No Brasil, índices ambientais reduzem produtividade agrícola que tecnologia ajuda a elevar

Trabalho analisou a produtividade do setor agrícola brasileiro através de dados em painel de 510 microrregiões do Brasil. Dados também mostraram que o crescimento da produtividade não é homogêneo entre microrregiões e estados.

 Publicado: 30/07/2024

Arte: Olívia Rueda*

De acordo com os dados da pesquisa, existe um efeito negativo do aumento das temperaturas e de mudanças climáticas sobre a produtividade do setor agrícola – Foto: clpcorreia/Pixabay

Alguns estudos têm estimado que o crescimento da produtividade no setor agrícola brasileiro atinge por volta de 3%; dados publicados no livro Agropecuária Brasileira, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que o valor médio é de cerca de 3,3% desde 1975. No entanto, de acordo com uma pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq) da USP, a produtividade no campo seria de cerca de 1,96%, e a principal causa desse resultado é o impacto ambiental. 

“Esse crescimento [de 1,96% ao ano] é elevado. Isso, para um ganho de produtividade, é uma taxa bastante considerável”. Para comparação, a média mundial é de 1,12%, e de países como Estados Unidos, é de 1,48%. Quem explica é Humberto Spolador, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq e primeiro autor do artigo, que também teve a participação do pesquisador André Felipe Danelon.

No trabalho, foi analisada produtividade do setor agrícola brasileiro através de dados em painel de 510 microrregiões do Brasil em três diferentes anos, 1995, 2006 e 2017. Com os dados, os pesquisadores observaram que o crescimento da produtividade não é homogêneo entre as microrregiões e, até mesmo, entre os estados.

O índice de Produtividade Total dos Fatores (IPTF) foi dividido em outros indicadores como: eficiência técnica, progresso técnico, mix de escala e eficiência, e índice ambiental. Eles atuam conjuntamente, sendo que os três primeiros tratam do investimento em tecnologia e gestão, enquanto o último tem relação com as mudanças climáticas, como aumento de temperatura e chuvas. A pesquisa mostra que, apesar de o progresso técnico levar a um aumento de produtividade de 2,6%, o índice ambiental leva à queda de 0,75%.

Humberto Spolador - Foto: Reprodução/ESALQ-USP

Para Spolador, a decomposição do IPTF em diferentes indicadores foi essencial para definir os determinantes para a produtividade do setor e de sua evolução. “Nós captamos que existe um efeito negativo do aumento das temperaturas e de mudanças climáticas sobre a produtividade do setor. Então, esse resultado reforça de novo a importância de se manter o processo de inovações tecnológicas junto com práticas ambientais sustentáveis”, afirma o pesquisador. O estudo foi recentemente publicado na revista Australian Journal of Agricultural Economics and Natural Resources.

IPTF, heterogeneidade entre regiões e impacto ambiental

Os estados e regiões têm uma relação diferente com cada um dos índices em que o IPTF foi decomposto. Em locais como Paraná, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Tocantins e Maranhão, foram encontrados índices ambientais altos. Em outros como São Paulo, Espírito Santo, Alagoas e Santa Catarina, o IPTF é alto devido ao ambiente de produção, que já possui a estrutura e a tecnologia necessárias. Em termos de crescimento do IPTF entre 1995 e 2017, alguns dos estados que apresentaram as maiores taxas foram Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Crescimento médio percentual do IPTF por microrregiões entre 1995 e 2017. Os estados que apresentaram maior crescimento foram Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. - Foto: Reprodução/Artigo

Além disso, a pesquisa mostra que as mudanças no clima podem ser um problema a ser enfrentado pelo agricultor, principalmente quando se considera o aumento de temperatura, que gera diminuição da produtividade. “A gente está mostrando que existe um efeito que, embora fuja do controle e tomada de decisão do produtor, é um aspecto importante para se levar em conta”, explica.

Spolador afirma que mostrar essa heterogeneidade permite que políticas públicas de desenvolvimento tenham um olhar mais direcionado para cada local, visando manter a produtividade e mitigar os impactos ambientais, para o benefício do próprio setor e da economia brasileira.

Ainda de acordo com o professor, o Núcleo de Estudos e Estratégias em Produtividade e Eficiência da Esalq (NEEPE-Esalq) têm dedicado esforços para aplicar a metodologia da pesquisa. No site do grupo, foi disponibilizado um estudo voltado apenas ao Estado de São Paulo, com informações de mais de 600 municípios paulistas.

O trabalho conta com informações sobre a produtividade dos municípios entre 2015 e 2019, trazendo um olhar voltado ao desenvolvimento regional.

Mais informações: e-mail hspolador@usp.br, com Humberto Francisco Silva Spolador

*Estagiária sob supervisão de Luiza Caires *Estagiária supervisionada por Moisés Dorado


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