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No Brasil, índices ambientais reduzem produtividade agrícola que tecnologia ajuda a elevar
Trabalho analisou a produtividade do setor agrícola brasileiro através de dados em painel de 510 microrregiões do Brasil. Dados também mostraram que o crescimento da produtividade não é homogêneo entre microrregiões e estados
Arte: Olívia Rueda*
De acordo com os dados da pesquisa, existe um efeito negativo do aumento das temperaturas e de mudanças climáticas sobre a produtividade do setor agrícola – Foto: clpcorreia/Pixabay
Alguns estudos têm estimado que o crescimento da produtividade no setor agrícola brasileiro atinge por volta de 3%; dados publicados no livro Agropecuária Brasileira, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que o valor médio é de cerca de 3,3% desde 1975. No entanto, de acordo com uma pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq) da USP, a produtividade no campo seria de cerca de 1,96%, e a principal causa desse resultado é o impacto ambiental.
“Esse crescimento [de 1,96% ao ano] é elevado. Isso, para um ganho de produtividade, é uma taxa bastante considerável.” Para comparação, a média mundial é de 1,12%, e de países como Estados Unidos, é de 1,48%. Quem explica é Humberto Spolador, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq e primeiro autor do artigo, que também teve a participação do pesquisador André Felipe Danelon.
No trabalho, foi analisada a produtividade do setor agrícola brasileiro através de dados em painel de 510 microrregiões do Brasil em três diferentes anos, 1995, 2006 e 2017. Com os dados, os pesquisadores observaram que o crescimento da produtividade não é homogêneo entre as microrregiões e, até mesmo, entre os Estados.
O índice de Produtividade Total dos Fatores (IPTF) foi dividido em outros indicadores, como: eficiência técnica, progresso técnico, mix de escala e eficiência, e índice ambiental. Eles atuam conjuntamente, sendo que os três primeiros tratam do investimento em tecnologia e gestão, enquanto o último tem relação com as mudanças climáticas, como aumento de temperatura e chuvas. A pesquisa mostra que, apesar de o progresso técnico levar a um aumento de produtividade de 2,6%, o índice ambiental leva à queda de 0,75%.
Humberto Spolador - Foto: Reprodução/Esalq-USP
Para Spolador, a decomposição do IPTF em diferentes indicadores foi essencial para definir os determinantes para a produtividade do setor e de sua evolução. “Nós captamos que existe um efeito negativo do aumento das temperaturas e de mudanças climáticas sobre a produtividade do setor. Então, esse resultado reforça de novo a importância de se manter o processo de inovações tecnológicas junto com práticas ambientais sustentáveis”, afirma o pesquisador. O estudo foi recentemente publicado na revista Australian Journal of Agricultural Economics and Natural Resources.
IPTF, heterogeneidade entre regiões e impacto ambiental
Os Estados e regiões têm uma relação diferente com cada um dos índices em que o IPTF foi decomposto. Em locais como Paraná, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Tocantins e Maranhão, foram encontrados índices ambientais altos. Em outros como São Paulo, Espírito Santo, Alagoas e Santa Catarina, o IPTF é alto devido ao ambiente de produção, que já possui a estrutura e a tecnologia necessárias. Em termos de crescimento do IPTF entre 1995 e 2017, alguns dos Estados que apresentaram as maiores taxas foram Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Crescimento médio porcentual do IPTF por microrregiões entre 1995 e 2017. Os Estados que apresentaram maior crescimento foram Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás - Foto: Reprodução/Artigo
Além disso, a pesquisa mostra que as mudanças no clima podem ser um problema a ser enfrentado pelo agricultor, principalmente quando se considera o aumento de temperatura, que gera diminuição da produtividade. “A gente está mostrando que existe um efeito que, embora fuja do controle e tomada de decisão do produtor, é um aspecto importante para se levar em conta”, explica.
Spolador afirma que mostrar essa heterogeneidade permite que políticas públicas de desenvolvimento tenham um olhar mais direcionado para cada local, visando manter a produtividade e mitigar os impactos ambientais, para o benefício do próprio setor e da economia brasileira.
Ainda de acordo com o professor, o Núcleo de Estudos e Estratégias em Produtividade e Eficiência da Esalq (NEEPE-Esalq) tem dedicado esforços para aplicar a metodologia da pesquisa. No site do grupo, foi disponibilizado um estudo voltado apenas ao Estado de São Paulo, com informações de mais de 600 municípios paulistas.
O trabalho conta com informações sobre a produtividade dos municípios entre 2015 e 2019, trazendo um olhar voltado ao desenvolvimento regional.
Mais informações: e-mail hspolador@usp.br, com Humberto Francisco Silva Spolador
*Estagiária sob supervisão de Luiza Caires *Estagiária supervisionada por Moisés Dorado
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