Exercício físico regula mecanismos moleculares característicos da obesidade

Artigo de revisão analisou trabalhos realizados em modelos animais e em humanos, sugerindo que o treinamento físico atua de maneira inversa à obesidade na modulação de microRNAs

 27/07/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 01/08/2023 às 15:22

Texto: Redação*

Arte: Simone Gomes

Foto: Flickr – CC

A obesidade tem sido relacionada a alterações que interferem em todo o organismo, inclusive em processos celulares e moleculares, como os de uma importante classe de reguladores de genes conhecidos como microRNAs. Uma revisão de estudos produzida por pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP aponta que o exercício físico age de forma oposta à obesidade na modulação desses genes, possivelmente atenuando seus efeitos danosos.

MicroRNAs são pequenas moléculas que não codificam proteínas e são responsáveis por regular RNAs mensageiros (genes-alvo) que, por sua vez, são responsáveis pela produção de proteínas que atuam em todo o funcionamento do organismo. A regulação dos microRNAs afeta a expressão de genes patogênicos, associados ao risco de desenvolver doenças, e também de genes protetores, que ajudam a reduzir esse risco.

Alterações moleculares na obesidade

Diante da ingestão excessiva de alimentos hipercalóricos, as células que acumulam gordura, chamadas células adiposas, começam a crescer e se dividir, e ocorre a modulação dos microRNAs.

Assim, eles modificam a sinalização molecular, promovendo, em longo prazo, processos ligados ao adoecimento em diversos órgãos. Desta forma, são afetados, por exemplo, genes associados a doenças cardiovasculares, podendo levar a complicações desta natureza.

Regulação por meio do exercício físico

O trabalho de revisão produzido por pesquisadores do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício, sob orientação da professora Edilamar de Oliveira, indica que o treinamento físico atua de maneira inversa à obesidade na modulação dos microRNAs. É o caso do microRNA-126, que tem entre seus alvos o gene PI3KR2, o qual atua na formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese). Com a expressão do microRNA-126 diminuída na obesidade, o gene PI3KR2 é aumentado, o que inibe a angiogênese. Já o exercício físico aumenta a expressão do microRNA em questão, o que favorece o processo de formação de novos vasos sanguíneos.

Edilamar Oliveira - Foto: ResearchGate
Edilamar Oliveira - Foto: ResearchGate

De forma semelhante, a modulação do microRNA 29c na obesidade afeta o processo de fibrose, causando o aumento de colágeno no coração, o que reduz a eficiência do órgão em bombear sangue para o corpo. Isso acontece porque a obesidade diminui a expressão desse microRNA, aumentando a expressão do gene colágeno-1. O fenômeno pode levar ao remodelamento do coração, problema conhecido como cardiomiopatia da obesidade. Já o exercício físico atua de forma contrária, aumentando a expressão do microRNA 29c e diminuindo a expressão do colágeno-1, atenuando a fibrose cardíaca, o que, por sua vez, melhora o funcionamento do coração.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Modulação de microRNAs é feita de forma dinâmica

Em conjunto, os resultados sugerem que o exercício físico atua de forma a regular contrariamente os microRNAs afetados pela obesidade, diminuindo seus efeitos negativos. Ainda são necessários mais estudos clínicos, já que a maior parte dos artigos apresentou resultados advindos de estudos com modelos animais.

Os possíveis benefícios obtidos em humanos ocorreriam de forma relativamente dinâmica. “O microRNA é modulado não somente de forma crônica [com o tempo], mas também de forma aguda, depois de uma sessão de exercícios físicos, por exemplo. Ao manter essa modulação durante um período de tempo, o indivíduo vai induzir a ativação ou inibição de algumas vias de sinalização molecular. Em longo prazo, isso pode gerar um impacto benéfico em diversos órgãos”, afirma o pós-doutorando Alex Cleber Improta-Caria, autor principal da publicação. Da mesma forma, explica o pesquisador, um comportamento danoso à saúde, como uma refeição hipercalórica, também poderia levar rapidamente à modulação dos microRNAs de forma prejudicial.

Alex Cleber Improta-Caria - Foto: Arquivo Pessoal
Alex Cleber Improta-Caria - Foto: Arquivo Pessoal

Embora cada um dos artigos analisados na revisão tenha adotado um protocolo diferente, é provável que resultados benéficos sejam obtidos, em humanos, com a realização de exercícios físicos de acordo com os padrões estabelecidos pela OMS (150 minutos semanais). Também devem ser consideradas as especificidades de cada um. Segundo o pesquisador, por exemplo, pode ser mais adequado à pessoa com obesidade praticar natação ou bicicleta em vez da esteira, por serem exercícios aeróbios de menor impacto para as articulações.

O artigo de revisão, intitulado MicroRNAs regulating pathophysiological processes in obesity: the impact of exercise training, foi publicado na revista Current Opinion in Physiology e pode ser acessado neste link.

Mais informações: e-mail edilamar@usp.br

*Da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE, com edição de Luiza Caires


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