Excesso de peso paterno influencia no tamanho de recém-nascidos, aponta estudo

Estudo da USP identificou que quanto maior o índice de massa corporal do genitor, menor o peso e o perímetro cefálico da criança ao nascer; pesquisa analisou 89 trios de parceiros, gestantes e neonatos

 07/11/2024 - Publicado há 1 mês

Da Redação*

Arte: Joyce Tenório**

Excesso de peso paterno influencia no tamanho de recém-nascidos, aponta estudo – Foto: Craig Adderley/Pexels

Estudo realizado por pesquisadoras da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostrou uma associação entre o excesso de peso paterno e o peso do bebê ao nascer. Quanto maior o índice de massa corporal (IMC, ou seja, relação peso/altura) do pai, menor era o do recém-nascido.

O estudo realizado com os 89 pais, mães e filhos ainda constatou que, quanto maior o IMC e a circunferência de cintura paternas, menor a circunferência cefálica do recém-nascido. “Não identificamos nenhuma anomalia ou má-formação, mas é uma correlação importante, já que a circunferência cefálica do bebê é um parâmetro relevante de crescimento. No entanto, ainda precisamos de novos estudos para avaliar o real significado desse achado”, afirma Mariana.

Estilo de vida

O peso do bebê ao nascer é considerado um preditor importante para a saúde não só na infância, mas em toda a vida adulta. Além do maior risco de morte, diversos estudos já demonstraram que bebês que nascem com baixo (ou alto) peso podem vir a desenvolver doenças não transmissíveis ao longo da vida, como as cardiovasculares, diabete do tipo 2 e alguns tipos de câncer.

O trabalho realizado pelas pesquisadoras da FMRP é o desdobramento de um estudo clínico maior apoiado pela Fapesp, que avaliou a efetividade do aconselhamento nutricional em 350 gestantes com sobrepeso, atendidas em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

“Em estudos conduzidos entre gestantes notamos haver um componente faltando na equação que envolve o estilo de vida materno e o recém-nascido. Por isso, miramos na análise do efeito da antropometria paterna no desenvolvimento fetal”, conta Daniela Saes Sartorelli, professora do Departamento de Medicina Social da FMRP que orientou o estudo de doutorado de Mariana.

O grupo ainda vai analisar o efeito da dieta paterna na antropometria e adiposidade neonatal. Serão considerados parâmetros como o consumo de ultraprocessados e a qualidade da gordura da dieta paterna.

Saúde pública

foto em preto e branco de uma mulher de cabelos curtos, olhos escuros. Ela usa brincos grandes, blazer escuro. Está com uma das mãos no pescoço e sorrindo.
Daniela Saes Sartorelli - Foto: Currículo Lattes

O excesso de peso materno é considerado uma questão de saúde pública. Diversos estudos já demonstraram que o ganho excessivo de peso durante a gestação expõe tanto a mulher quanto o bebê a riscos aumentados de saúde no curto e no longo prazo. Na mãe, eleva os riscos de diabete gestacional, hipertensão, pré-eclâmpsia e cesarianas. Na criança, há uma alta probabilidade de, no curto prazo, nascer com alto ou baixo peso e, no longo prazo, há o risco aumentado de desenvolver obesidade e doenças associadas, como diabete tipo 2 ou hipertensão arterial, em uma idade precoce.

Se no caso das mães há uma relação direta via placenta e outras células entre a obesidade e o desenvolvimento fetal, o excesso de peso paterno pode levar a algumas alterações epigenéticas (modificações bioquímicas no DNA que reprogramam a expressão dos genes). Segundo Mariana, estudos anteriores conduzidos em animais já haviam demonstrado que alguns genes expressos pelo pai podem afetar o crescimento feto-placentário.

De acordo com a pesquisadora, esses estudos evidenciaram que, ainda dentro da barriga da mãe, o feto pode sofrer restrições de crescimento, influenciado pelo excesso de peso paterno, não atingindo o seu potencial genético de crescimento. Basicamente, a exposição paterna aos chamados estressores ambientais no período antes da fecundação, como alimentação, prática de atividade física e tabagismo, por exemplo, pode levar a alterações no metabolismo dos filhos por meio de alterações epigenéticas.

“O que se sabe até agora é que esses estressores ambientais, como o excesso de peso, por exemplo, podem influenciar a estrutura e qualidade dos espermatozoides, alterando as expressões gênicas e influenciando o DNA do filho. Essa influência está relacionada à epigenética, área da ciência que estuda como estímulos ambientais podem ativar ou silenciar genes”, explica Carvalho.

“É claro que a mãe é um ponto fundamental e, inclusive, os estudos mostram a importância do cuidado nutricional da gestante. Mas é preciso jogar luz sobre a questão do excesso de peso paterno no período pré-concepção. Os resultados mostram que, assim como é importante o aconselhamento nutricional materno, os pais também precisam mudar hábitos antes da concepção”.

Estudos anteriores sobre obesidade, acrescenta, identificaram que o excesso de peso pode influenciar a deposição mineral óssea do recém-nascido. “Ressaltamos que neste estudo há uma limitação: não tivemos acesso à informação de quanto tempo as mulheres ficaram em trabalho de parto [em caso de parto vaginal]. E sabemos que a circunferência cefálica logo após o nascimento pode ser alterada temporariamente quando o bebê ficou muito tempo no canal vaginal”, afirma a pesquisadora.

O artigo Relationship between paternal excessive weight and neonatal anthropometry in a clinical trial of nutritional counseling for pregnant women with overweight pode ser lido aqui.

*Texto de Maria Fernanda Ziegler, da Agência Fapesp. Adaptado por Tabita Said
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado


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