Comunicação clara e objetiva é o desafio nas dificuldades da relação pais e escola

O atendimento aos pais de uma criança com dificuldades escolares deve ser transparente e acolhedora, para que se sintam compreendidos e apoiados, dizem especialistas

 26/08/2023 - Publicado há 10 meses     Atualizado: 21/05/2024 as 9:28
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A expectativa dos pais em relação ao desempenho escolar dos filhos é geralmente alta. Por isso, ao menor sinal de dificuldade, enfrentar a realidade de algum problema que a criança possa ter pode ser angustiante. O despreparo tanto dos pais quanto das escolas para ajudar essa criança pode agravar a situação e até levar a conflitos. 

As crianças, muitas vezes, passam mais tempo na escola do que em casa, o que permite aos professores perceberem essas dificuldades mais rapidamente. Porém, ao comunicar essas dificuldades, reações negativas dos pais são comuns, seja por não entenderem as observações dos professores, ou simplesmente por não aceitarem mesmo a condição da criança.

“Nesses casos, a comunicação clara e objetiva, sem cobranças de ambos os lados, potencializa o atendimento à criança de forma mais adequada”, explica a psicóloga da USP Luciana Carla dos Santos Elias. A profissional lembra que os pais tendem a ter dificuldade em aceitar problemas com os filhos. “É só fazer uma analogia, se o filho tem febre os pais se desesperam, se não está aprendendo lá na escola é difícil receber essa informação. Isso mexe com crenças, valores e convicções dos pais, por isso é importante dar apoio a esses pais.”

A pedagoga Andreia Pereira Cassão, professora na rede pública na cidade de Viradouro, na região Metropolitana de Ribeirão Preto, relata que já vivenciou a experiência de pais não aceitarem essas dificuldades e acabaram tirando a criança da escola, prejudicando ainda mais o desenvolvimento dela.

Preparação das Escolas

Saber se as escolas estão preparadas para lidar com alunos que apresentam dificuldades ou transtornos é fundamental. Fábio Deodato, chefe da Divisão de Educação Especial da Secretaria da Educação de Ribeirão Preto, destaca a capacitação dos docentes das escolas públicas da cidade. “Formamos os professores para que entendam as deficiências e os transtornos. Muitos já trazem uma bagagem e fazem formações específicas.”

Deodato lembra que existem leis que protegem crianças com dificuldades de aprendizagem. “A Constituição Federal de 1988 garante atendimento digno para todos, inclusive para alunos com deficiência e transtornos.” Ele menciona também a Política Nacional de Educação Especial e documentos internacionais como a Convenção da Guatemala e a Declaração de Salamanca, que asseguram o direito à educação com igualdade de oportunidades.

Na rede particular, a coordenadora pedagógica Patrícia da Conceição Bispo ressalta a necessidade de um trabalho de orientação educacional efetivo. “A escola precisa fazer a ponte entre pais, coordenação pedagógica, professores, especialistas e psicóloga escolar para que a família seja atendida e compreendida.” 

Patrícia corrobora com a psicóloga Luciana, ao afirmar que a escola ao perceber a necessidade de sugerir atendimento especializado aos pais, deve fazê-lo de forma humanizada. “É fundamental sensibilizar a família, mostrando as conquistas que a criança poderia ter alcançado e as estratégias já utilizadas pela escola. A escola observa a criança em seu todo e precisa comunicar aos pais a necessidade de um atendimento especializado de forma gradual e delicada. A abordagem deve ser verdadeira, transparente e acolhedora, para que os pais se sintam compreendidos e apoiados.” 

Entretanto, a coordenadora lembra que é importante distinguir entre questões disciplinares e necessidades específicas da criança. “Muitas vezes, comportamentos como agitação ou impulsividade são mal interpretados.”

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone

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