Primeira mulher na direção
Após 60 anos de criação, a FFCLRP terá uma mulher pela primeira vez como diretora, um momento de celebração e reflexão sobre a importância da representatividade feminina em posições de liderança. No campus da USP em Ribeirão Preto, por exemplo, ela é a única, atualmente, que estará à frente de uma unidade de ensino. Emocionada ao se dar conta do desafio que tem pela frente e seu papel nesse contexto, diz que é crucial alcançar um ponto no qual a nomeação de uma mulher para um cargo de liderança não seja mais uma surpresa ou um evento digno de nota, mas algo comum e natural. Ela destaca que a presença de mulheres em cargos de liderança ajuda a quebrar barreiras e abre caminhos para futuras gerações. “Essa não é somente uma conquista pessoal. É um passo significativo para todas as mulheres que se dedicam à academia e à ciência”, diz Christie.
Christie nasceu em Lins, São Paulo, e foi criada em Barretos, onde desde cedo desenvolveu um forte senso de responsabilidade como a mais velha de quatro irmãos. Filha de dentistas, seguiu os passos dos pais e se formou em Odontologia pela Unesp de Araraquara. Durante sua formação na Unesp, ela se interessou pelas áreas básicas da Odontologia, especialmente pela Fisiologia. Esse interesse a levou a realizar estágio de iniciação científica em Fisiologia durante quatro anos, o que solidificou sua paixão pela pesquisa e pela academia.
Essa paixão pavimentou seu ingresso no programa de pós-graduação em Fisiologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, onde fez mestrado e doutorado, sob orientação da professora Leda Menescal. “Essa experiência moldou meu conhecimento técnico e também a ter uma abordagem humanística e integrativa no ensino e na pesquisa”, avalia. A carreira docente teve início na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, onde trabalhou por 16 anos e durante esse período atuou em neurofisiologia, focando na modulação do comportamento e da dor. Foi figura central na criação do programa de pós-graduação em Biologia Oral.
Sua atuação em Neurociência e Neurofisiologia abriu portas para que ela pudesse atuar em áreas interdisciplinares, assim se envolveu com o programa de pós-graduação em Psicobiologia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Com esse cenário, começou a se desenhar sua transferência para a unidade, o que aconteceu em 2018. “Nessa transição fui bem acolhida, tantos por colegas como pelos alunos. Passei a ministrar aulas de Neurofisiologia para os alunos de Psicologia, focando na base biológica do comportamento.”
Na FFCLRP, além de atividades acadêmicas, Christie também assumiu papéis administrativos como a vice-presidência da Comissão de Pós-Graduação (CPG) e a vice-diretoria da faculdade, estreitando assim relações com diversos departamentos e unidades da USP.
Metas e foco na extensão e inclusão
Christie Panissi tem claras as metas para sua gestão, que incluem desde a modernização dos currículos dos cursos de graduação até a promoção de uma maior integração entre os departamentos. Um dos pontos centrais de sua administração será a reavaliação da estrutura organizacional da FFCLRP. A unidade, que atualmente funciona como sete departamentos distintos, enfrenta desafios para se adaptar às demandas administrativas e acadêmicas da USP, que frequentemente a enxerga como três grandes áreas. “Precisamos decidir juntos se queremos ser vistos como três ou sete departamentos. Essa definição é crucial para nossa identidade e para a forma como nos relacionamos com a Reitoria e com o restante da Universidade”, explica Christie. Ela planeja criar uma comissão para rediscutir essas questões com toda a comunidade acadêmica, garantindo que qualquer mudança seja fruto de um consenso coletivo.
Outro foco importante da gestão de Christie será o fortalecimento das atividades de extensão universitária e a criação de uma Comissão de Pertencimento e Inclusão. Ela reconhece a importância da FFCLRP como uma das maiores unidades do campus e vê na extensão uma forma de amplificar o impacto da Universidade na sociedade. Ela cita, por exemplo, a crescente demanda por apoio psicológico entre os estudantes e os funcionários, especialmente no pós-pandemia. Reconhece que o Centro de Psicologia Aplicada (CPA), que enfrenta um aumento significativo nas demandas, possui a necessidade de reforço de equipe e recursos disponíveis.
A visão para a FFCLRP, diz Christie, está profundamente enraizada em seus valores pessoais de responsabilidade, inclusão e cuidado com o próximo. Ela enfatiza que sua gestão será caracterizada por uma abordagem humanística e inclusiva, em que cada membro da comunidade terá voz e espaço para contribuir. “Quero ser uma facilitadora na busca de um ambiente onde todos possam desempenhar suas funções da melhor forma possível. Quero ser vista como alguém que está aqui para facilitar processos, não para impor mudanças. Acredito em uma liderança compartilhada, onde cada um tem seu papel e juntos trabalhamos para alcançar a excelência”, finaliza Christie.
Como inspiração para essa nova jornada, a dirigente cita os valores transmitidos pelos pais e o apoio do marido João Panissi Neto, parceiro em todos os momentos importantes de sua trajetória, além dos filhos, João e Lara, todos como fontes de motivação.