O Brasil perde posição quando o assunto é competitividade econômica. Em 12 anos, o País foi ultrapassado por 22 nações, sendo que, desde 2011, quando ocupou a 38ª posição entre os países mais competitivos do mundo, não parou de cair. De acordo com o relatório do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Gerencial, uma instituição de educação executiva na Suíça, o mesmo ranking mundial de competitividade coloca o Brasil na rabeira, na 60ª posição em 2023.
No estudo feito com 64 países, o Brasil ficou à frente apenas da África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela. No relatório, a pesquisa de opinião e a coleta de dados estatísticos relacionados ao Brasil são de responsabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC). A metodologia do estudo aponta quatro pilares críticos para a competitividade de um país: o desempenho da economia; a eficiência do governo; a eficiência dos negócios e a infraestrutura.
O economista Fábio Augusto Reis Gomes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, explica que vários fatores levam o Brasil a essa posição. “Reformas importantes, como a tributária, não são concretizadas. Há uma expectativa, mas ela certamente precisa trilhar um processo para ser concluída e efetivada”, discorre.
Além disso, segundo o especialista, falta estabilidade, considerando incertezas tanto de natureza política quanto jurídica. Ele relembra o período eleitoral, em que houve discussões sobre a Reforma Trabalhista de 2017. “Incertezas como essas certamente são prejudiciais ao planejamento dos empresários. As regras do jogo devem ser claras e não podem ficar mudando constantemente”, pontua.
Questão tributária
O ambiente tributário do Brasil é um dos piores do mundo. Para se ter uma ideia, a arrecadação federal no ano passado totalizou R$ 2,218 trilhões, o melhor resultado desde 1995. Mas a complexidade do sistema tributário faz com que cada empresa brasileira, na média, precise cumprir nada menos do que 4.626 normas tributárias, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Algo que, por si só, dificulta qualquer avanço em competitividade.
O peso do Estado não se resume à questão tributária. Para o professor, há a questão da eficiência. “Quanto a essa mão pesada do Estado, frequentemente ouço a frase ‘todo empresário tem um sócio: o governo’. Isso comunica a convicção de que os tributos e os impostos são muito elevados, e com baixa eficiência da parte do governo, essa alta arrecadação não se traduz em benefício de qualidade para a sociedade”, declara Gomes.
Ponto de partida
A busca pela eficiência do governo requer políticas horizontais bem-sucedidas que afetem a economia de forma ampla. “Apenas para lembrar alguns aspectos recentes da atuação do governo, o que nós temos visto são justamente políticas verticais, como o incentivo dado à indústria automotiva, que são passageiras e beneficiam apenas um setor específico e não a economia como um todo”, relembra.
No entanto, apesar de afirmar que as isenções fiscais impactam as vendas de automóveis, o professor conclui que essa não é uma política duradoura e que ela sempre envolve a escolha de campeões. “Nessa política, há setores beneficiados e setores esquecidos”, afirma.
“O mesmo vale para a desoneração da folha, alguns setores são beneficiados e outros não. Portanto, se você é um empresário que atua no setor beneficiado, bom, mas, se você é um empresário que é esquecido, não vai ter esse sentimento”, exemplifica. Para o professor, o ideal é que desenvolvessem políticas mais horizontais, de forma a beneficiar a economia como um todo e não ficar restrito ao papel de escolha de vencedores.
O professor defende políticas públicas horizontais, que vão além de uma reforma tributária simplificada. Ele aposta em uma política educacional bem-sucedida como outra política horizontal que beneficiaria a todos. “O desafio do governo é buscar eficiência em sua atuação. A sociedade não parece estar disposta a pagar mais tributos, então o governo precisa fazer mais e melhor com os recursos que ele tem disponível. Na educação, como já citamos, mas também na infraestrutura que afeta de modo geral a economia”, finaliza.
Texto por Ferraz Junior e Susanna Nazar
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