A primeira semana da COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), iniciada no dia 31 do mês passado, em Glasgow, na Escócia, contou com declarações do governo brasileiro que vão na contramão da postura tomada até então. Entre os compromissos assumidos estão a conservação das florestas e a redução da emissão de gases de efeito estufa.
A mudança de discurso deixa dúvidas quanto ao real cumprimento das promessas. Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IE), falando ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, destaca que “é preciso verificar se as intenções vão efetivamente sair do papel”.
Côrtes chama atenção para o histórico negativo do governo atual quanto às questões ambientais. Em 2020, o Brasil teve um aumento de 9,5% nas emissões de gases do efeito estufa, em contraste com a redução mundial de 6,7%. Outra taxa que não apresenta melhora significativa é a de desmatamento. Comparando os dados de 2020 e 2021 nos períodos de janeiro a outubro, a redução foi de apenas 3%.
Ainda no combate ao desmatamento, Côrtes comenta sobre a dificuldade causada pelas medidas, promovidas pelo governo, de desmonte das equipes do IBAMA, do Ministério do Ambiente e do ICMBIO, o que pode comprometer o cumprimento das metas. O comprometimento do funcionamento do IBAMA, especialmente, causa grandes dificuldades no combate ao crime ambiental. Segundo o professor, atualmente as verificações em campo, antes realizadas por essa organização, são feitas pelo exército e pela Polícia Militar, que não têm treinamento específico para esse tipo de operação.
Outra questão alarmante é a preferência na contratação de termelétricas no leilão de energia elétrica organizado pelo governo federal para suprir as demandas nacionais. Esse tipo de usina utiliza combustíveis fósseis como gás natural e óleo combustível, que são emissores de gases poluentes.
Para Côrtes, as metas apresentadas são totalmente executáveis e nós temos condições de zerar o desmatamento até 2030 e atingir a neutralidade de carbono até 2050. No entanto, o caminho tomado nos últimos anos vai de encontro a esses resultados. “Não é nada complicado para o País atingir isso, mas obviamente é necessário vontade política, é necessário que isso efetivamente saia do papel”, comenta o professor.
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