A menos de três meses para a cerimônia de abertura, a incerteza permeia os Jogos Olímpicos de Tóquio, programados para ocorrer em 2020, mas adiados por conta da pandemia de covid-19. Apesar de o Japão se mostrar estruturalmente pronto, as condições impostas pelo coronavírus fazem dessa uma olimpíada atípica.
De acordo com Katia Rubio, professora associada da Faculdade de Educação (FE) da USP e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos (GEO-USP), a desigualdade é uma das marcas da realização dessa olimpíada. Os países adotaram medidas diferentes de combate ao coronavírus, por isso, há casos de atletas que treinaram normalmente, mas também de atletas que praticamente não puderam treinar. “Se houver essa edição olímpica, ela já nasce prejudicada, porque as condições de treinamento estão muito desiguais”, afirma. “E um dos princípios olímpicos é a igualdade.”
A presença de público também é motivo de dúvida. Já está definido que torcedores estrangeiros não poderão assistir aos jogos no Japão. É possível que nem mesmo os japoneses ou residentes possam frequentar os ginásios. Para Katia, as diferentes condições de treinamento, a quebra do ciclo olímpico com o adiamento da competição e a falta de público são fatores que, combinados, fazem dos jogos de Tóquio uma olimpíada incomum. Esse aspecto de excepcionalidade pode influenciar o desempenho dos atletas.
O risco à saúde também permeia essa edição. O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem procurado garantir a imunização de todos os participantes do evento, mas a vacinação não será exigida para entrar no Japão. Katia reconhece os esforços dos comitês internacional e brasileiro, mas questiona o aspecto ético envolvendo a vacinação de atletas. “A gente tem outras prioridades, desde o começo da doença, pessoas que ainda não foram imunizadas”, afirma. “Motoristas de ônibus, caixas de supermercado e professores estão trabalhando desde o começo da pandemia sem imunização. Eles têm prioridade em relação aos atletas”, acrescenta.
De acordo com a professora, alguns atletas brasileiros alcançaram boas marcas nas competições pré-olímpicas, mas também há casos de atletas impossibilitados de treinar por conta da pandemia. O País vai para os jogos com uma delegação de aproximadamente 220 atletas, menos da metade da delegação de 2016. “É o momento de não se criar expectativas”, afirma Katia.
Apesar de cada vez mais certa, nem mesmo a realização dos jogos está garantida. O COI se mobiliza para que eles aconteçam, mas a maioria da população japonesa defende que a olimpíada seja cancelada ou adiada novamente, segundo pesquisas de opinião. A professora comenta que há uma questão de calendário envolvida, já que as duas próximas edições, Paris 2024 e Los Angeles 2028, estão confirmadas. Dessa forma, uma atitude reparadora de Tóquio ocorreria somente em 2032. “Não sei o quanto o Japão está disposto a bancar isso”, afirma.
“Do ponto de vista simbólico, o que vai acontecer este ano não são jogos olímpicos, porque o ritual já foi quebrado”, diz. “Os jogos acontecerem em 2021 é mais ou menos como a gente celebrar o Natal em maio e o Carnaval em setembro. É só para fazer de conta que aconteceu”, finaliza Katia.
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