“Investir no audiovisual é investir na economia brasileira”, avalia especialista

Luiz Dantas comenta os benefícios econômicos que a produção de um filme ou série traz para o país onde está sendo realizada

 31/05/2022 - Publicado há 2 anos
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São mais de 200 mil empregos diretos e quase 300 mil empregos indiretos gerados pelo setor – Foto: Pixabay
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O audiovisual é um setor com grande impacto socioeconômico e potencial de retorno aos cofres públicos. Segundo um estudo recente da Spcine, uma empresa de cinema e audiovisual da Prefeitura de São Paulo, para cada R$ 1 investido na produção de um filme ou série na cidade, o retorno médio é de mais de R$ 20.

Esse é apenas um dos exemplos de dados que confirmam a importância do setor. Conhecer esses números é importante para avaliar e formular as políticas públicas a fim de potencializar ainda mais seus benefícios.

Para entender melhor como o audiovisual pode impactar a economia, o Jornal da USP no Ar 1ª Edição conversou com Luiz Dantas, professor do Departamento de Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Efeito multiplicador

Luís Dantas – Foto: Reprodução/LinkedIn

Segundo Dantas, os benefícios se dão de três maneiras: direta, indireta e induzida. Os impactos diretos são aqueles diretamente ligados à produção do filme ou série, como o pagamento de impostos e salários. A produção também envolve investimentos indiretos como a contratação de serviços de transporte, hotelaria e alimentação, por exemplo. 

Com o pagamento dos salários e a contratação desses serviços, o setor é responsável também por impactos induzidos. As equipes contratadas vão gastar seu salário em outras atividades e serviços, dessa forma, o audiovisual acaba por incentivar gastos em outros setores. “Isso é o que a gente chama de multiplicador de renda”, explica o professor.

Os dados da Spcine ajudam a ilustrar essa questão: Anualmente, são mais de 200 mil empregos diretos e quase 300 mil empregos indiretos gerados pelo setor. São R$ 3 bilhões pagos em salários fixos e mais R$ 4 bilhões pagos indiretamente em serviços movimentados pelo audiovisual.

Esses números são especialmente importantes no contexto de retomada da economia após a pandemia de covid-19. Segundo um levantamento da consultoria internacional Olsberg SPI, quase 70% dos gastos de uma produção são direcionados a setores periféricos, o que inclui serviços administrativos, construção, alimentação, hospedagem, transporte, serviços jurídicos e de segurança, entre outros.

Diante desses impactos, Dantas diz que o setor deve ser encarado como um investimento e não como gasto. “O audiovisual é um dos setores mais importantes da economia atual. O que está acontecendo com o surgimento do streaming é uma expansão dos gastos, a produção no nível internacional cresceu muito. É um enorme multiplicador. Você atacar um mercado desses é um absurdo. É acabar com a sobrevivência, não só das pessoas, mas também da própria cidade. O audiovisual é muito importante e precisa ser encarado dessa maneira”, afirma o professor sobre as críticas ao setor.

Incentivo

Para potencializar esses benefícios, políticas públicas de incentivo e fomento são essenciais. A própria Spcine, assim como a Ancine (Agência Nacional do Cinema), possuem programas nesse sentido.

Dantas destaca as film comissions, assistências para a realização de produções com a proposta de transformar a cidade em um cenário a céu aberto, e o programa de cash rebate, um financiamento parcial de produções internacionais ou com grande potencial de internacionalização realizadas no País.

“[O objetivo] é trazer também gastos de fora. Essas comissões são estabelecidas para facilitar a logística e o funcionamento daquela cidade como um local a ser usado para filmagem. Isso traz um dinheiro que não existia antes e reverte-se de volta para a localidade onde esse gasto é efetuado”, explica. “Fica claro que é um investimento que vem de impostos recolhidos do próprio setor, não vem do orçamento do governo. O próprio setor, em função do que arrecada e recebe, gera esse fundo.”

O professor também lembra que o audiovisual é importante do ponto de vista da preservação da cultura. “A gente não pode separar, tem que sempre pensar em indústria e identidade cultural. Ainda mais porque a gente ter uma indústria forte vende nossa identidade cultural para o mundo”, afirma. Ele cita, como exemplo, Hollywood, que, através da produção cinematográfica, ajudou a espalhar uma identidade e modo de vida norte-americano. “A gente tem que ser inteligente nesse sentido, preservar nossa identidade cultural e investir na nossa economia. Investir no audiovisual é investir na economia brasileira.”

“A gente tem que valorizar nossa cultura, os outros estão valorizando. As políticas públicas são fundamentais. Elas têm que trabalhar pari passu com a preservação da identidade e têm que funcionar para valorizar a produção independente. Só assim a gente vai conseguir fazer esse mercado crescer”, finaliza.


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