As multinacionais têm deixado o Brasil por diversos motivos, entre eles estão os riscos da economia brasileira, instabilidade política e jurídica. A saída de grandes empresas atingiu diversos setores, como o automotivo. Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, comenta os acontecimentos.
Entre as empresas que deixaram a produção no País estão: Sony, Ford, Mercedes-Benz, Roche, LG, Nike, FNAC, entre outras. Segundo o professor, trata-se de um fenômeno muito preocupante e que se deve à “instabilidade brasileira”. “A economia brasileira não vai bem. Temos níveis de desemprego altíssimos, o que causa uma redução do consumo. As questões do ‘custo Brasil’ são muito importantes para o acontecimento. O Brasil está cada vez mais caro, a infraestrutura brasileira continua muito ruim, o transporte brasileiro continua sendo feito por rodovias, não temos ferrovias e os planos de novas ferrovias ainda estão longe. Temos problemas na energia elétrica, na carga tributária e tudo isso acaba onerando o custo das empresas”, afirma.
Feldmann chama a atenção para o fato de que a “debandada de empresas, que muitos chamam de ‘desglobalização’ acontece no mundo inteiro”. A produção das empresas retorna ao seu país de sede, nesse caso. “Agora, o processo de automação está se dando de forma tão densa, o preço de robôs caiu tanto, é muito fácil para essas empresas comprarem os robôs e passarem a fabricar na própria matriz, não precisam mais de mão de obra barata”, diz.
São esses fatores tecnológicos e de ambiente dos países que ocasionam a saída dessas empresas tão tradicionais, segundo Paulo Feldmann. Tratando dos últimos, ele destaca a insegurança jurídica, muito malvista pelo mercado externo. “Tem muita coisa que teremos que fazer para superar esse problema”, ressalta.
Pode-se dizer que a pandemia acelerou o processo de saída das empresas, já que o Brasil entrou na crise sanitária com taxas altas de desemprego e o consumo, que já estava baixo, diminuiu mais ainda. “Também tem o fato de que não soubemos tratar devidamente a pandemia. Nós deveríamos ter oferecido alguma coisa para essas populações desprovidas de renda. Fizemos isso no ano passado, o que atenuou um pouco a situação, mas neste ano não. O auxílio emergencial demorou muito para acontecer e, quando veio, veio em um valor muito pequeno. A questão da insegurança alimentar, no Brasil, é alarmante. É uma situação complicada e que foi agravada”, afirma.
É preciso, então, traçar um plano para o futuro e para superar essa realidade no País. “Nós deveríamos nos preocupar em regulamentar as novas profissões, novas atividades na área de saúde, novas atividades na área ambiental. Tudo isso pode gerar empregos em pequenas empresas. O Brasil precisaria se preparar para atender às pequenas empresas, já que é muito hostil para com elas. Nós precisaríamos de uma nova política econômica que desse prioridade e incentivos para as pequenas empresas, que as tratasse de forma diferente. Em outros países, há políticas públicas para auxiliar pequenas empresas, o que não existe no Brasil. Política pública é dar condições para que as pequenas enfrentem as grandes empresas”, encerra.
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