Ao se pensar a situação conservacional do meio ambiente em São Paulo, devemos expandir o quadro para o cenário observado nas zonas do entorno, em especial nas serras paulistas. A importância disso tem a ver com o potencial biótico existente nas serras, somado ao desenvolvimento de atividades como o ecoturismo, decorrente de nuances geomorfológicas e climáticas.
Atualmente mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas, em que o contato com a natureza se dá por meio de pequenos espaços de mata remanescentes e em parques. Tais zonas apresentam uma série de benefícios para um conjunto biótico no ecossistema. No caso de São Paulo, a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira abrigam essas características, justamente por possuírem um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas, em termos de diversidade biológica, geológica e hidrográfica.
Considerada um hotspot mundial, justamente por contar com uma biodiversidade extremamente rica e por ser um dos biomas mais ameaçados do planeta, a Mata Atlântica que cobre as serras chega a possuir mais de 400 espécies de aves, boa parte delas endêmicas, além de uma significativa quantidade de espécimes da flora. Por outro lado, compõem a lista de animais ameaçados em extinção micos-leões, lontras e onças-pintadas, também caros à biodiversidade local.
É justamente para esse potencial, e, como contraponto, a situação crítica em que se encontram a fauna e flora, que o professor Jean Metzger, do Instituto de Biociências, chama a atenção. Pensando que anteriormente 80% do território do Estado de São Paulo era encoberto por áreas verdes, ele diz que a necessidade de se preservar esses espaços também está vinculado ao bem-estar e à saúde, ao serem criadas zonas de lazer e recreação, pelo contato com a natureza.
Espaços degradados
No entanto, esses espaços vêm sendo degradados e sofrendo com intervenções humanas em níveis irreparáveis. Essas são as motivações pelas quais o professor Jurandyr Ross, do Departamento de Geografia Física, aponta para a problemática dos deslizamentos de terra sazonais, cujo impacto é observado em níveis ambientais e sociais. Áreas que deveriam ser destinadas à conservação e proteção estão sendo ocupadas sem uma proteção adequada, ocasionando remoção de cobertura vegetal e empobrecimento do solo pela instalação de indivíduos. Ao final, temos a configuração de um problema que extrapola os níveis ambientais, ao causar perdas em níveis antropológicos.
Para a proteção dessas zonas, os dois professores ressaltam a necessidade de ações em conjunto. A estipulação de leis pode ser um primeiro passo para a criação de mais zonas de proteção ambiental, mas tudo seria efetivo se fossem adicionados outros mecanismos mais práticos, como o ICMS Ambiental, ou mesmo o fomento à Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Como complemento, Metzger comenta: “Não é um único instrumento que vai resolver tudo. Se você combinar instrumentos de governança, você começa a ter resultados mais relevantes”.
Assim, a situação de conservação desses ambientes precisa ser repensada. Aliadas aos benefícios socioambientais, as questões existentes no entorno da cidade de São Paulo, mais especificamente nas serras, demandam medidas mais seguras para a proteção do grande potencial biótico das serras paulistas.
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