Diante da pandemia, o fechamento das escolas foi uma das medidas adotadas globalmente para reduzir a transmissão do coronavírus. Uma questão que surge, então, é: como aconteceu a adaptação para a educação remota? Luiz Guilherme Cantarelli, mestrando do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, comenta os programas de educação pública remota no Brasil durante esse período.
Cantarelli, juntamente com outros dois pesquisadores, publicou a nota técnica Uma avaliação dos programas de educação pública remota dos Estados e capitais brasileiros durante a pandemia do covid-19. A ausência de um comando centralizado por parte do Ministério da Educação fez com que os Estados e municípios definissem suas estratégias de uma maneira bastante independente. Para realizar o levantamento dos dados, foram avaliadas quatro dimensões dos planos: o meio de transmissão das aulas, disponibilização de acesso, supervisão das atividades e a cobertura dos planos.
Os pesquisadores criaram um índice capaz de avaliar todos esses aspectos e consideraram também a demora na adoção dos planos. Entre os Estados, houve muito diferença entre os modelos. “O que fica bastante claro é que a preocupação com o acesso foi bastante limitada, para não dizer negligenciada, pela grande maioria dos planos”, afirmou Cantarelli.
As preocupações que surgem são diversas. A evasão escolar pode ser agravada, a maioria dos planos também não previa nenhuma supervisão das atividades que os alunos realizavam. Cantarelli aponta que dentro da própria rede pública, entre os alunos que foram alvos desses programas, aqueles que já tinham acesso à internet mais fácil puderam assistir às aulas, enquanto os que não tinham acesso não foram alvos de políticas específicas. Dessa forma, as desigualdades educacionais, que já são uma realidade da sociedade brasileira, foram acentuadas. A situação fica ainda pior se compararmos os alunos das escolas públicas com os alunos de escolas privadas.
Todas essas questões devem ser consideradas no retorno às aulas presenciais. Sobre isso, Cantarelli lembra da necessidade dos protocolos sanitários. É indispensável um plano que abarque a ventilação das salas, o uso das máscaras e aumento das testagens. Seria ideal também que se pensasse na possibilidade de priorizar os professores no plano de vacinação.
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