A Câmara dos Deputados concluiu a votação do projeto que concede a empresas a permissão de compra de vacinas para seus funcionários. O texto da proposta, que segue para o Senado, exige que 50% das vacinas adquiridas pelo setor privado sejam doadas ao SUS, mas pessoas jurídicas não precisam aguardar a imunização total dos grupos prioritários. O projeto surge em um contexto de escasso abastecimento de imunizantes em todo o mundo.
O professor Oswaldo Yoshimi Tanaka, diretor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, explica ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição que não há como garantir ao setor privado, mesmo empresas poderosas, a quantidade de vacinas necessárias para imunizar seus funcionários e concomitantemente doar 50% de sua compra. “Minha suspeita é que ela [a lei] não terá a eficácia esperada, tanto para o setor privado quanto para o setor público, e o grande problema é que nós não temos produção em escala no mundo para ter vacinas disponíveis”, afirma o professor.
Do ponto de vista epidemiológico de doenças infecciosas, segundo o diretor, é necessário que 80% da população seja imunizada, assim, mesmo que pessoas estejam infectadas, a capacidade de transmissão não é suficiente para viabilizar um brote epidêmico. As vacinas disponíveis possuem até 70% de eficácia, o que significa que se 100% da população for vacinada, 30% ainda não seriam imunizadas. “Para as empresas, por mais que se vacinem os funcionários, se eles pegam ônibus, moram em lugares de aglomeração, continuam sujeitos a todo tipo de risco”, explica Tanaka, afirmando que, mesmo que todos os funcionários tenham recebido as duas doses, “uns 30% desses funcionários não estarão imunizados; o fato de pegarem ônibus, verem a família, irem para casa de amigos, continuam sendo fonte de infecção, contaminando os não imunizados.”
Muito embora a vacina não seja uma salvação instantânea para a pandemia e que sua eficácia não seja de 100%, Tanaka reforça que ela é muito importante, o único instrumento de intervenção que permite a proteção do organismo via anticorpo. Mesmo para os que estão vacinados, os protocolos de segurança seguem sendo os mesmos. “Gostaríamos imensamente que mesmo as pessoas que tenham tomado a primeira e a segunda dose mantivessem o isolamento, uso de máscara, limpeza das mãos e permitissem o mínimo de contato possível, porque mesmo vacinados correm risco […]; até que tenhamos uma cobertura vacinal de pelo menos 60% ou 80%, não estaremos livres ainda de casos ou brotes epidêmicos”, conclui.
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