O fenômeno psicológico de enxergar rostos em objetos inanimados é denominado pareidolia. Ele é responsável por “resolver” enigmas visuais, ao unir o lúdico da imaginação à ciência, e tem sua relação com a evolução, também sendo identificada nos mecanismos de defesa e sociabilização de outras espécies de mamíferos.
O cérebro funciona a partir de estímulos, sejam estes visuais, olfativos e auditivos, que acarretam determinadas construções perceptuais e, a partir destas, são formadas as imagens. A pareidolia é resultante do estímulo visual e decorre da necessidade de “resolver” enigmas visuais.
O professor Marcelo Fernandes Costa, do Departamento de Psicologia Experimental da Faculdade de Psicologia da USP, explica que o fenômeno decorre desta forma: “Nossa percepção vai resolver coisas, ela faz isso o tempo todo. Esta é uma função ativa e involuntária que o nosso cérebro tem”, complementa ele.
Esse processamento de informações, e que gera o fenômeno da pareidolia, ocorre na chamada área fusiforme do cérebro, região voltada para o processamento de estímulos nervosos. A familiaridade que os seres humanos possuem com rostos e a existência de um padrão básico das faces também são fatores que facilitam a sua identificação em objetos do cotidiano.
Outro fator ressaltado pelo professor é a aversão do nosso cérebro a lacunas sensoriais, que forçam a assimilação a um objeto já conhecido. Ele explica: “Quando a gente está frente a um estímulo visual que não consegue resolver, nosso cérebro vai buscar o processamento perceptual em sistemas cerebrais importantes”.
Relação evolutiva
Para os seres humanos, o processamento visual também é um mecanismo de sociabilidade e defesa, já que a pareidolia ocasiona a identificação de rostos, mesmo que irreais. Assim, não é equivocado pensar tal mecanismo psicológico como uma herança evolutiva.
A questão da identificação de semelhantes surgiu com a premissa de evitar potenciais predadores. “O fenômeno da pareidolia, aparentemente, vem seguindo a evolução, principalmente em espécies com maior volume cortical”, adiciona Costa. Mas não somente humanos, como primatas e felinos possuem essa característica de identificação apurada. O professor finaliza, ressaltando que, atualmente, o fenômeno pode até ser um mecanismo social, mas que sua importância está na capacidade de resolver estímulos abstratos, a fim de formar uma percepção coerente do mundo físico.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.