Pesquisa americana mostra que o Alzheimer é mais recorrente em mulheres

Orestes Forlenza comenta estudo segundo o qual, em comparação aos masculinos, os cérebros femininos apresentam maior concentração da enzima peptidase 11 específica da ubiquitina, conhecida como USP11 

 21/11/2022 - Publicado há 1 ano
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A doença de Alzheimer é caracterizada pelo processo degenerativo do tecido neuronal – Foto: NIH Image Gallery/Flickr-CC

A doença de Alzheimer, o tipo mais comum de demência, é reconhecida por afetar, principalmente, a população idosa. Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Case Western, de Cleveland, nos Estados Unidos, descobriu que o transtorno neurodegenerativo é mais recorrente nas pessoas do sexo feminino do que nas do sexo masculino. Mais ainda, identificaram um provável motivo para a predominância.

O professor Orestes Forlenza, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, explica: “Eles identificaram uma alteração de um processo biológico, que tem relação com o mecanismo de limpeza cerebral”. Em comparação aos cérebros masculinos, os cérebros femininos apresentam maior concentração da enzima peptidase 11 específica da ubiquitina, conhecida como USP11. 

Entendendo o Alzheimer no microscópio

A enzima USP11 é diretamente ligada ao cromossomo sexual X – material genético do sexo feminino. As células humanas possuem 46 pares de cromossomos divididos em 23 pares. Desses, 22 aparecem com as mesmas características em ambos os sexos. O último par é denominado de par dos cromossomos sexuais, que determinam o sexo do indivíduo: as fêmeas são definidas pelo par XX, enquanto os machos têm um cromossomo X e o outro Y.

Orestes Vicente Forlenza – Foto: HCFMUSP

A doença de Alzheimer é caracterizada pelo processo degenerativo do tecido neuronal. Sem a plena execução das funções neuronais, há a evolução progressiva da doença. Os responsáveis pela atrofia dos neurônios são as proteínas Tau e beta-amiloide que, quando defeituosas, resultam no surgimento de quadros de demência. 

A proteína Tau é responsável pela regulação do dinamismo, estabilidade e funcionamento das estruturas dos neurônios, como os dendritos e axônios. Além disso, a deposição da Tau e da beta-amiloide causa alterações comportamentais e déficits cognitivos, como perda de memória recente e das funções executivas motoras. A enzima USP11 permite o acúmulo da proteína Tau em cérebros femininos quase duas vezes mais do que nos cérebros masculinos.

Diagnóstico e prevenção do Alzheimer

Para diagnosticar a doença de Alzheimer antes de os primeiros sintomas aparecerem, é feita uma detecção do acúmulo da proteína Tau por método de imagem – uma tomografia computadorizada com alta sensibilidade e especificidade. É importante que o diagnóstico da demência seja feito no estágio de intervenção: “Se você botar no tratamento alguém que não tem a doença de Alzheimer, não vai ter benefício, só vai ter dano”, alerta.

O professor Forlenza sugere que sejam analisados marcadores mais relevantes em homens do que em mulheres, como a presença da enzima USP11. “Então, é possível, que, além da Tau, também vamos acompanhar a concentração do marcador de ubiquitinação?”, questiona ele. Os biomarcadores, portanto, permitiriam o diagnóstico e o estadiamento da doença.

Com a identificação da proteína defeituosa, seria possível precaver o desenvolvimento da demência. Forlenza aponta duas formas de medidas preventivas: uma específica e outra geral. “Para você pensar na prevenção da doença de Alzheimer, especificamente, uma das estratégias seria você remover o [a proteína beta] amiloide”, afirma. Em virtude da doença ser causada por essa macromolécula, ao retirá-la, previne-se o desenvolvimento do Alzheimer posteriormente. 

O segundo método é retardar os efeitos do envelhecimento – principal razão para o surgimento das demência – por meio do incentivo às boas práticas de saúde. “Eu acho que é muito melhor investir em promoção de saúde do que botar todas as fichas aqui nas drogas produzidas para a doença de Alzheimer”, conclui o professor.


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