Sem o Auxílio Emergencial, o rendimento mensal médio real do brasileiro tem queda recorde de 5,1% (já descontada a inflação) em 2021, e atinge o menor valor em dez anos. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Hélio Zylberstajn, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP, examina a situação.
De acordo com o professor, os dados não surpreendem, apenas confirmam o que é evidente: “A taxa de desocupação está muito alta porque tem muita gente sem trabalho e a inflação crescendo. A inflação entra nessa conta porque o que eles fizeram foi trazer o valor de 2020 para 2021 corrigido pela inflação. O que a gente tinha em 2020 é maior do que a gente tem em 2021. Então tudo conspira contra”.
Para Zylberstajn, os principais motivos que levaram a essa queda são a redução das transferências de renda dos programas de auxílio, o alto número de desocupação no mercado de trabalho, a diminuição do rendimento do trabalho e o efeito estatístico da aposentadoria.
No estudo feito pelo IBGE, o IPCA foi aplicado igualmente para todos, mas isso pode ocultar um fator importante. “A inflação tem impactos diferentes, ela pesa muito mais nas famílias mais pobres, porque as famílias mais pobres gastam uma porção maior da sua renda com alimentação, transportes e domicílio, que subiram muito. A inflação é mais pesada, portanto, desconfiamos seriamente que essa queda foi maior nas famílias mais pobres”, aponta o professor.
Auxílio Emergencial
Quando começou a ser executado, o Auxílio Emergencial conseguiu amenizar a situação de crise, mas o impacto chegou após sua diminuição, principalmente por conta do aumento da inflação. Zylberstajn comenta que “ele segurou nas duas pontas. Ele segura a ponta da família, que recebe aquela ajuda e passa a ter recursos para pôr um pouco de comida na mesa e para pagar as contas. Do ponto de vista existencial, é uma política extremamente importante. Na outra ponta, essa ajuda se transforma imediatamente em consumo, ajuda a girar a economia e a fazer o mercado de trabalho andar um pouco melhor. Quando você reduz essa política, você tira as duas pontas”.
O professor ainda comenta a relevância das eleições de 2022. “Não sabemos bem o que os candidatos querem, eles ainda não apresentaram os programas. Nós vamos precisar olhar com muita atenção esses programas, porque não podemos ter uma repetição do passado mais distante, uma política de gasto pelo gasto. Precisamos conhecer os programas para poder fazer uma escolha que contemple primeiramente a questão social no Brasil, mas com responsabilidade”, destaca.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.