
Em sua pesquisa de doutorado, Geni Núñez analisou produções acadêmicas indígenas do povo Guarani para observar como essas autorias vêm definindo conceitos como raça, etnia, branquitude e etnogenocídio. Sua análise permitiu destacar grandes diferenças na forma como autorias indígenas e não indígenas discutem o racismo, bem como defender as perspectivas guarani e indígena, em geral, como epistemologias válidas para combatê-lo.
Com formação em psicologia, Geni defendeu sua tese de doutorado em 2022 na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). No dia 31 de agosto, estará na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP para compartilhar um resumo de sua tese, intitulada Nhande ayvu é da cor da terra: perspectivas indígenas guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude. A palestra é gratuita e, para participar, não é necessário fazer inscrição. O evento será presencial, com transmissão on-line pelo canal da FFLCH no YouTube.
Entre os destaques da pesquisa, Geni observou que as autorias não indígenas caem no apagamento das especificidades indígenas quando o tema é o racismo, restringindo-se a um binarismo que só trata do negro e do branco. Por outro lado, os trabalhos produzidos na universidade por indígenas Guarani trazem uma autodefinição que não é pautada por um fenótipo específico, mas pelo pertencimento coletivo ao povo guarani, à sua cultura, língua e modo de vida.
Além disso, as autorias indígenas Guarani têm definido o conceito de branquitude a partir da noção de propriedade privada, da imposição de marcos temporais coloniais, da tentativa de dominação e exploração de seres humanos e não humanos e da “não concomitância característica das monoculturas de pensamento”, conforme diz o resumo da tese.
Geni Núñez é guarani, integrante da Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogos/as (ABIPSI) e da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia. É também coassistente da Comissão Guarani Yvyrupa. Estará na FFLCH a convite do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA), contribuindo com o ciclo de seminários regulares do grupo. Pessoa não binária, Geni tem levado reflexões sobre racismo, binarismo, afetos e relações não monogâmicas a eventos e às redes sociais, sempre partindo de um ponto de vista anticolonial. Atualmente, está lançando o livro infantil Jaxy Jaterê, que conta a versão guarani da história do Saci Pererê. Tem um perfil no Instagram com mais de 290 mil seguidores, no qual faz críticas anticoloniais ao binarismo e ao que chama de “monocultura dos afetos”

Serviço
Palestra com Geni Núñez:
Perspectivas indígenas Guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude
Data: quinta-feira, 31 de agosto de 2023, das 18 às 19 horas
Local: FFLCH, Prédio de Ciências Sociais, Sala 8 – Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária, São Paulo – SP
Com transmissão pelo YouTube