Estudo dos meteoritos ajuda a conhecer a Terra e o próprio Universo

De acordo com Gaston Rojas, ao estudar os meteoritos, estamos estudando a nossa história e buscando resposta para uma questão crucial da ciência e da humanidade: de onde viemos?

 07/06/2023 - Publicado há 1 ano
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Os meteoritos, de acordo com o seu tipo, trazem evidências únicas da história de formação do sistema solar e dos processos que formaram os planetas – Foto: Pixabay

 

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Fragmentos de asteroides ou corpos celestes maiores, que atravessam a atmosfera, resistem à queima causada pelo atrito com a camada de ar e atingem o solo: esses são os meteoritos. “Eles são fragmentos rochosos ou metálicos. Por outro lado, o meteoro ou estrela cadente é o brilho gerado pela queima desse material com o atrito na atmosfera”, explica o professor Gaston Rojas do Instituto de Geociências da USP. Os meteoritos não são rochas homogêneas, possuem subdivisões, dependendo da sua composição. Existem os meteoritos condríticos que, segundo Rojas, representam 90% do total, e também os diferenciados. “A composição dos condríticos se aproxima da composição química média do sistema solar, excluindo os compostos voláteis. Possuem uma parte rochosa formada por minerais, como silicatos de magnésio, e outra parte formada por uma liga metálica de ferro com pequenas quantidades de níquel“, coloca o professor.

Já os diferenciados são os originados de corpos maiores como grandes satélites ou planetas. Eles possuem em seu interior pressões e temperaturas altas que permitem processos de diferenciação química, separando as fases mais densas, ou seja, as ligas de ferro e níquel no núcleo do corpo. “Quando esses corpos maiores são fragmentados, dão origem aos meteoritos metálicos e aos meteoritos rochosos”, complementa o especialista.

Informações

Rochas, minerais e metais: todos esses elementos não parecem conter nenhuma informação, mas, na verdade, podem fornecer milhões de anos de conhecimento sobre o Universo.

Gaston Rojas – Foto: Arquivo Pessoal

Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostra o impacto de detectores de metal — que contêm ímãs —, muito comuns na caça a meteoritos, em seu conteúdo milenar. O foco foi o meteorito Black Beauty, formalmente chamado de Northwest Africa 7034. “Os autores do estudo, inicialmente, tinham a intenção de analisar o registro paleomagnético do meteorito marciano, caído no deserto do Saara em 2011, com o objetivo de entender se houve no passado um campo magnético em Marte similar ao da Terra, que fosse capaz de proteger o planeta dos ventos solares e permitir a existência de água no estado líquido. Porém, o estudo mostrou que, devido ao uso de fortes ímãs de mão para identificar os fragmentos do meteorito, todo o seu registro foi alterado por completo, inviabilizando o estudo”, explica o professor.

O problema não é somente o detector de metais. As condições do meteorito na Terra também influenciam na quantidade de informações que podem ser obtidas posteriormente: “Algumas dessas evidências são muito frágeis e podem ser perdidas permanentemente, dependendo das condições que uma amostra de meteorito é submetida aqui na Terra, seja por meios naturais ou por interferência humana. Por exemplo, se uma amostra entrar em contato com a água, seja porque tomou chuva ou caiu no mar ou foi lavada por alguém, sua fase metálica poderá rapidamente oxidar“, comenta Rojas.

Importância

Bem como os dados paleomagnéticos que permitem estudar o campo magnético de onde o meteorito foi originado, esses fragmentos trazem muitas outras informações. Já foram encontradas as bases nitrogenadas, responsáveis pela formação do DNA e do RNA; açúcar para construção de moléculas, e até novos metais.

De um modo mais geral, os dados fornecidos pelo estudo dos meteoritos trazem respostas — e mais questionamentos — a respeito da formação e origem do Universo, sobre os planetas em si e também sobre a preservação do planeta Terra, pontua o professor: “Os meteoritos, de acordo com o seu tipo, nos trazem evidências únicas da história de formação do sistema solar e dos processos que formaram os planetas, incluindo o nosso. Sobre a importância dos estudos dos meteoritos para a sociedade, de um ponto de vista mais filosófico, podemos citar uma das questões fundamentais da ciência e da humanidade que é: de onde viemos? Ou seja, ao estudar os meteoritos, estamos estudando a nossa história. Por outro lado, as considerações que podemos fazer sobre os corpos do sistema solar nos mostram o quão delicada e ímpar são as condições de habitabilidade do planeta Terra, o que reforça o senso de preservação do planeta”.


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