O samba da Rádio USP é patrimônio da cidade

Em sessão especial realizada no dia 2 de dezembro para celebrar o Dia Nacional do Samba, Assembleia Legislativa presta homenagem a Moisés da Rocha, produtor e apresentador do programa “O samba pede passagem”, no ar há 38 anos pela Rádio USP

 06/12/2016 - Publicado há 7 anos
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Assembleia Legislativa homenageia os incentivadores do samba de São Paulo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Assembleia Legislativa homenageia os incentivadores do samba de São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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A voz na defesa do samba na USP e na cidade tem um nome: Moisés da Rocha. O seu programa O samba pede passagem, apresentado pela Rádio USP (93,7 MHz) há 38 anos, foi apontado, na sessão especial da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, realizada no dia 2 de dezembro para celebrar o Dia Nacional do Samba, como um patrimônio cultural da cidade. A deputada e sambista Leci Brandão reverenciou a data coordenando a solenidade em homenagem aos defensores da memória do samba paulista.
“O samba deve muito a Moisés da Rocha”, disse a deputada para a plateia que lotou o salão Juscelino Kubitschek. Emocionada, lembrou que graças ao programa O samba pede passagem retomou a sua carreira, interrompida por questões políticas. “Eu tinha ficado cinco anos sem gravar. Aí gravei um disco que tinha uma capa marrom de um lado e amarelo do outro. E foi o Moisés quem começou a divulgar as músicas. Uma força que me ajudou a recuperar a minha carreira de sambista.”
Diante do incentivo a todos os sambistas, a deputada reforçou a importância e tradição de O samba pede passagem: “É um marco da rádio paulista e brasileira e um patrimônio da cultura brasileira, resgatando autores consagrados e incentivando os compositores desconhecidos”.
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De mãos dadas, plateia reverencia a alegria do povo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
De mãos dadas, plateia reverencia a alegria do povo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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O produtor, pesquisador e radialista recebeu a homenagem entre o aplauso dos integrantes das escolas de samba, dos compositores, músicos. “Este é um momento de muita emoção”, agradeceu Moisés da Rocha. “Não se faz nada sem um bom samba. Tem o papel de agente da transformação social e luta contra o racismo que vem assolando o País.”
O radialista nasceu em 1942, em Ourinhos, no interior de São Paulo. Desde os 8 anos, sonhava em ser cantor. Começou ensaiando no coral da Igreja Metodista. Aos 15 anos, veio para a capital. Porém o timbre de sua voz e a dicção clara levaram Rocha a descobrir um novo sonho. E se tornou um dos locutores mais ouvidos de São Paulo. “É a voz que puxa o samba de São Paulo, da periferia da cidade para todo o Estado”, elogia Geraldo de Souza, 78 anos, presidente da Velha Guarda da Barroca da Zona Sul. “Eu não perco um único programa.”
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Moisés da Rocha: o pioneirismo de produzir um programa dedicado ao samba - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Moisés da Rocha, ao lado de Leci Brandão: o pioneirismo de produzir um programa dedicado ao samba – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Além de Moisés da Rocha, a Assembleia Legislativa reverenciou os cantores, compositores e músicos responsáveis pela história do samba paulista, que completa 100 anos. Entre os homenageados estavam a cantora Ignez Francisco da Silva, mais conhecida por dona Inah; o cantor e compositor Osvaldinho da Cuíca; a dona Maria Esther de Camargo Lara, do Samba de Roda de Pirapora do Bom Jesus, fundadora da primeira escola de São Paulo, a Lavapés; e Antonio Carlos Ferreira, mais conhecido por Tonheca, membro da Velha Guarda da Barroca Zona Sul. Entregou também menção honrosa para a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, o Terreiro de Compositores e o Projeto de Samba Sibipiruna, de Campinas.

Retrato do povo

A deputada Leci Brandão pediu licença para quebrar o protocolo da sessão solene. E mostrar que o samba é a alegria do povo e o porta-voz dos oprimidos. Chamou as cuícas presentes no auditório, o ritmo de Don Pandeiro, músico internacional que havia desembarcado dos Estados Unidos, e cantou o samba de João Bosco: Roncou, roncou, roncou de raiva a cuíca, roncou de fome. Alguém mandou. Mandou parar a cuíca. É coisa dos home.
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Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Sessão da Assembleia Legislativa, no dia 2 de dezembro, teve samba ao vivo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Leci justificou: “O samba conta histórias, remete ao passado, celebra o presente e fala de futuro. Traz consigo as alegrias, lutas e vitórias do povo brasileiro, mas também seus anseios. É, sem nenhuma dúvida, um retrato da nossa gente e revela as diferentes etapas de nossa história”.
A sambista lembrou que, no ano passado, instituiu a Lei 15.690, que declarou o samba como patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo. “Essa medida tem o propósito de garantir que a nossa maior expressão cultural tenha o reconhecimento que merece por meio de políticas e ações por parte do poder público e da sociedade, pois as personalidades e comunidades que dão vida a essa expressão ainda não recebem a devida atenção e muito precisa ser feito.”

Ouça a seguir entrevista de Moisés da Rocha à Rádio USP:

Programa nasceu como reação ao preconceito contra a cultura afro-brasileira

 

 

 


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