Morte da rainha Elizabeth II levanta questões sobre o governo de seu sucessor, Charles III

Os professores Kai Enno Lehmann e Pedro Luiz Côrtes apontam a possível postura a ser adotada pelo rei Charles III, que tem no ativismo ambiental uma de suas maiores marcas

 09/09/2022 - Publicado há 2 anos
Rainha Elizabeth II deixa um importante legado, que agora fica sob responsabilidade de Charles III – Foto: Flickr

 

Logo da Rádio USP
Kai Enno Lehmann – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A rainha Elizabeth II faleceu na tarde de ontem (8), aos 96 anos de idade. Com 70 anos de governo — o mais longevo da Coroa britânica —, ela deixa um importante legado, que acompanha a passagem de 15 primeiros-ministros e sete papas, além de acontecimentos da contemporaneidade, como a Segunda Guerra Mundial e outros diversos conflitos geopolíticos.

O professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, comenta que um dos feitos mais marcantes da vida dela foi a sustentação de sua popularidade ao longo de sete décadas de governo. Lehmann acrescenta: “Esse é um dos principais desafios para o rei Charles III, para ver se essa popularidade era dela ou da monarquia”.

Postura do rei Charles III

Conforme a linha de sucessão, o primogênito da rainha Elizabeth II, Charles III, assume o trono britânico. Em um cenário de crise energética e de troca de primeiros-ministros, Charles vai ter desafios importantes pela frente. “Ele deve continuar o legado dela [rainha Elizabeth II], mas ele não é ela”, analisa o professor.

Uma abdicação é pouco provável, segundo ele, já que o ex-príncipe se preparou para esse momento por décadas. É possível que haja uma pressão social para a sucessão de um governante mais jovem, mas, fora isso, não há uma razão para ele abdicar. Por ter o posto de rei, Charles não é aconselhado a se envolver com questões políticas pois é apenas chefe de Estado, uma posição considerada apolítica. Antes da ascensão ao trono, sua atuação no âmbito das discussões ambientais era constante e crítica, sendo considerada sua marca.

Ativismo ambiental

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Reprodução/Câmera São Paulo

Ao longo de sua vida como príncipe, Charles discursou em importantes eventos como expoente da preservação do meio ambiente. No Fórum Econômico Mundial de 2020, em Davos, ele questionou se queremos entrar para a história como as pessoas que nada fizeram enquanto poderíamos ter revertido o quadro climático. “Embora ele tenha se pronunciado de maneira vigorosa, essas palavras acabavam não tendo a repercussão que poderiam ter diante da imagem internacional de eterno herdeiro”, comenta Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O Acordo de Paris de 2015 e a COP26, em Glasgow, são outros exemplos de sua participação na defesa do planeta.

Sobre o protagonismo no combate às mudanças climáticas e à perda de biodiversidade, Côrtes explica que, como monarca, sua voz “terá um peso muito maior”. Além disso, a crise energética enfrentada pela Europa torna-se ainda mais relevante na transição dinástica, segundo o professor: “Nesse sentido, o posicionamento do novo rei da Inglaterra vai assumir um peso muito maior diante desse novo cenário que se impõe à Europa e diante da dificuldade que ela terá para cumprir as metas acordadas no Acordo de Paris”.

Logo da Rádio USP

Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.