A rainha Elizabeth II faleceu na tarde de ontem (8), aos 96 anos de idade. Com 70 anos de governo — o mais longevo da Coroa britânica —, ela deixa um importante legado, que acompanha a passagem de 15 primeiros-ministros e sete papas, além de acontecimentos da contemporaneidade, como a Segunda Guerra Mundial e outros diversos conflitos geopolíticos.
O professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, comenta que um dos feitos mais marcantes da vida dela foi a sustentação de sua popularidade ao longo de sete décadas de governo. Lehmann acrescenta: “Esse é um dos principais desafios para o rei Charles III, para ver se essa popularidade era dela ou da monarquia”.
Postura do rei Charles III
Conforme a linha de sucessão, o primogênito da rainha Elizabeth II, Charles III, assume o trono britânico. Em um cenário de crise energética e de troca de primeiros-ministros, Charles vai ter desafios importantes pela frente. “Ele deve continuar o legado dela [rainha Elizabeth II], mas ele não é ela”, analisa o professor.
Uma abdicação é pouco provável, segundo ele, já que o ex-príncipe se preparou para esse momento por décadas. É possível que haja uma pressão social para a sucessão de um governante mais jovem, mas, fora isso, não há uma razão para ele abdicar. Por ter o posto de rei, Charles não é aconselhado a se envolver com questões políticas pois é apenas chefe de Estado, uma posição considerada apolítica. Antes da ascensão ao trono, sua atuação no âmbito das discussões ambientais era constante e crítica, sendo considerada sua marca.
Ativismo ambiental
Ao longo de sua vida como príncipe, Charles discursou em importantes eventos como expoente da preservação do meio ambiente. No Fórum Econômico Mundial de 2020, em Davos, ele questionou se queremos entrar para a história como as pessoas que nada fizeram enquanto poderíamos ter revertido o quadro climático. “Embora ele tenha se pronunciado de maneira vigorosa, essas palavras acabavam não tendo a repercussão que poderiam ter diante da imagem internacional de eterno herdeiro”, comenta Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O Acordo de Paris de 2015 e a COP26, em Glasgow, são outros exemplos de sua participação na defesa do planeta.
Sobre o protagonismo no combate às mudanças climáticas e à perda de biodiversidade, Côrtes explica que, como monarca, sua voz “terá um peso muito maior”. Além disso, a crise energética enfrentada pela Europa torna-se ainda mais relevante na transição dinástica, segundo o professor: “Nesse sentido, o posicionamento do novo rei da Inglaterra vai assumir um peso muito maior diante desse novo cenário que se impõe à Europa e diante da dificuldade que ela terá para cumprir as metas acordadas no Acordo de Paris”.
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