

Após um período de queda no número de casos da covid-19, o Brasil viu as infecções voltarem a subir com a chegada da nova variante ômicron, atingindo uma média de 260 mil infectados diariamente no fim do mês de janeiro. Esse cenário, segundo o pesquisador titular da Fiocruz e líder da Vigilância Genômica de Vírus Respiratórios para as Américas pela Organização Panamericana de Saúde (Opas), Rodrigo Stabeli, é potencializado pelo comportamento da população e a alta densidade demográfica.
“A população arrefeceu em relação às medidas de proteção e segurança em relação à transmissão da covid-19”, afirma o pesquisador, que credita o fato ao longo período pandêmico e à falta de políticas econômicas para bem-estar social. Stabeli também aponta a alta densidade demográfica do País, citando dados do Ministério da Saúde, que estimam para Ribeirão Preto “70 mil pessoas infectadas por milhão de habitantes até o dia 10 de fevereiro”. Mas o pesquisador leva em conta ainda a própria característica da variante ômicron, que é considerada a mais transmissível.
Especificidade do vírus dificulta proteção do sistema imune

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional, o professor Benedito Antônio Lopes da Fonseca, virologista do Hospital das Clínicas (HC-FMRP) e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, explicou que a ômicron é a única variante que pode ser transmitida antes mesmo dos primeiros sintomas da doença.
A nova variante “mudou a proteína de superfície, de uma maneira em que a especificidade da proteína, da variante e do receptor na célula ficaram mais intensos”, conta Fonseca, adiantando que esse resultado dificulta o trabalho de reconhecimento do sistema imunológico e aumenta a taxa de transmissão do vírus.
Por conta dessa especificidade de ligação da proteína de superfície ao receptor celular, o professor alerta que essa variante “é mais resistente ao sistema imunológico”, com uma “capacidade de invadir o organismo” muito mais elevada.
Vacinação é a responsável pelo baixo número de mortos
Segundo Fonseca, ainda é incerto dizer que a ômicron não é tão agressiva quanto as outras variantes. Avalia que o número de casos graves da doença caiu em função da vacinação. No Brasil, cerca de 70% da população já recebeu as duas doses e 46 milhões tomaram a dose de reforço ou terceira dose.
O professor afirma que a maioria das internações por casos graves da covid-19 está relacionada a pessoas que não possuíam o ciclo de vacinação completo. Alerta também para os idosos, que possuem uma resposta imunológica mais lenta e enfraquecida, e ressalta para a importância da terceira dose de reforço.
Ouça a entrevista completa com o professor Benedito Antônio Lopes da Fonseca e o pesquisador Rodrigo Stabeli, ao Jornal da USP Edição Regional, no player acima.
Por: Vinicius Botelho e Giovanna Greppi
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