
O Guia Oncológico traz recomendações de prevenção e controle do câncer por meio da prática regular de atividade física – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
A USP fez parte da equipe de elaboração do primeiro Guia Oncológico Brasileiro, que traz recomendações de prevenção e controle do câncer e redução da mortalidade por meio da prática regular de atividade física. Produzido por pesquisadores de renomadas instituições ligadas ao combate ao câncer, o documento quebra o paradigma das últimas décadas de que pessoas diagnosticadas com a doença deveriam descansar e evitar esforços físicos. Há evidências científicas de que se manter ativo diminui o risco do câncer de mama, de cólon, do reto, de útero, de próstata e o de pulmão. Ainda, a atividade física tem efeito protetor após o diagnóstico de câncer, contribuindo para diminuir a mortalidade. O lançamento do guia foi feito neste 06 de abril, quando se celebra o Dia Mundial da Atividade Física.

Rafael Deminice, professor pesquisador da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Foto: Arquivo Pessoal
Segundo o coordenador do trabalho, Rafael Deminice, pesquisador de fisiologia do exercício e professor associado da Universidade Estadual de Londrina (UEL), “já é consenso na literatura científica que todo sobrevivente de câncer deve ser encorajado a manter-se fisicamente ativo durante seu tratamento e por toda a vida”, relata ao Jornal da USP.
O guia foi produto de um extenso trabalho de pesquisadores de várias instituições: da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS), da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), do Instituto Nacional do Câncer (INCA), da Escola de Educação Física e Esporte da (EEFE) da USP e da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Voltado para profissionais da saúde, o material consiste no levantamento e avaliação dos principais guias internacionais de recomendação de atividade física para paciente oncológico e produções científicas com revisão sistemática, metanálise e ensaio clínico randomizado.
Como resultado dessas análises, foi possível observar que, se a pessoa for fisicamente ativa, mesmo que seja somenteem horas de lazer, o risco de ela desenvolver câncer de mama, de colo de útero, do reto, próstata, pulmão diminui consideravelmente, relata a professora Patrícia Chakur Brum, professora titular em fisiologia do exercício da EEFE, uma das pesquisadoras convidadas para participação na produção do guia. “E se a pessoa já tiver sido diagnosticada com câncer, a atividade física tem efeito protetor para mortalidade pela doença”. Um estudo publicado nos Estados Unidos em 2018, com mais de mil sobreviventes de câncer de mama, próstata e colorretal mostrou que 8,1% dos sobreviventes eram inativos e 34,1% não praticava os níveis recomendados de atividade física, relata o guia.

Patrícia Chakur Brum, professora da EEFE-USP, uma das pesquisadoras convidadas para participação na produção do guia – Foto: Arquivo Pessoal[
Mulheres sobreviventes ao câncer de mama
Na USP, Patrícia Brum desenvolve pesquisa básica e clínica em que procura compreender os mecanismos pelos quais o exercício físico se torna benéfico à saúde, tornando -se indispensável na prevenção e tratamento complementar do câncer. Como atividade de extensão universitária associada à pesquisa, acompanha desde 2017 um grupo de mulheres sobreviventes de câncer de mama que remam na Raia Olímpica da USP, o programa Remama, e cujas integrantes têm sentido ao longo do tempo melhora em seus parâmetros de saúde física e mental por se manterem ativas.

A pesquisa foi feita com mulheres em remissão de câncer de mama, que praticam remo na Raia Olímpica da USP e fazem parte de um projeto que busca oferecer qualidade de vida à pacientes que passaram pelo tratamento da doença no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Após o tratamento e reabilitação, as pacientes são liberadas para remar seguindo o protocolo de que o exercício físico diminuiria a reincidência da doença e traria mais qualidade de vida para elas, que já passaram pelo tratamento do câncer de mama. Ainda, a escolha pela canoagem para essas mulheres segue um movimento de que o exercício com os membros superiores pode e deve ser realizado, pois até auxilia no tratamento e controle do linfedema e não o contrário, como se pensava anteriormente, relata a pesquisadora.
Desse trabalho, feito em parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e a Rede Lucy Montoro, de onde as pacientes vieram, juntamente como CEPEUSP e EEFE, foram publicados vários artigos científicos, entre os quais um relacionado à inatividade física e comportamento sedentário na pandemia do novo coronavírus: Determinants of Health and Physical Activity Levels Among Breast Cancer Survivors During the COVID-19 Pandemic: A Cross-Sectional Study, publicado na Frontiers in Physiology.
Esse estudo demonstrou que as participantes do Remama se tornaram inativas e aumentaram o tempo sedentário durante a pandemia e em consequência desse hábito ganharam entre 1 e 15 kg nesse período. A partir da detecção desse contexto, foi iniciado o programa “Remama ON”, um programa de condicionamento físico e educação em saúde online para as participantes do Remama e apoiado pela Pró Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) no edital 02/2021 Inclusão Social e Diversidade na USP em atendimento a agenda 2030 de desenvolvimento sustentável da ONU. O artigo Efeito do exercício nos marcadores de inflamação em sobreviventes do câncer de mama: The Yale Exercise and Survivorship Study, publicado na Scilit, mostra essa relação benéfica da atividade física e menores riscos de câncer.
Pacientes oncológicos
Sobre o guia, Patrícia Brum relata que pouco se discute sobre a realização de exercícios físicos com os pacientes oncológicos, mas em sua opinião, na medida que os tratamentos avançam proporcionando mais sobrevida às pessoas, é necessário que se busquem mecanismos que lhes tragam mais qualidade de vida. O guia dará mais segurança aos profissionais de saúde nas condutas médicas para seus pacientes quanto à prática de atividade física, mesmo que eles estejam em tratamento quimioterápico, radioterapia, terapia hormonal, dentre outros,
Segundo o documento, 50% dos cânceres são evitáveis por meio da prevenção. Somente no Brasil, aproximadamente 27% (114.497 casos) de todos os casos de câncer e 34% (63.371 mortes) de todas as mortes por câncer poderiam ser evitadas mediante a promoção de um estilo de vida saudável, como não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas, manutenção do peso corporal, alimentação saudável e praticar atividade física.

Conteúdos disponíveis em canais da USP orientam sobre a prevenção ao câncer de mama
No mês de conscientização sobre o câncer que mais atinge as mulheres, vídeos, podcasts e textos de pesquisadores da USP ajudam a informar sobre prevenção e tratamento da doença

Pandemia piorou condições de saúde de mulheres em remissão do câncer de mama
Muitas tiveram aumento do peso corporal, diminuíram a prática de atividade física e apresentaram sintomas da covid-19
Depois de lançado, o documento será público e de livre acesso e, em breve, será tema de artigo científico. Além do professor Rafael Demenice (UEL) e da professora Patrícia Chakur Brum (EEFE/USP), outros pesquisadores estiveram envolvidos no trabalho: Daniela Dornelles Rosa, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC); Fabio Fortunato Brasil de Carvalho, do Instituto Nacional do Câncer (INCA); Leandro Fórnias Machado de Rezende, da Universidade Federal de São Paulo(Unifesp); Leandro Martin Totaro Garcia, da Queens University Belfast – Reino Unido; Raquel Rieira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Renata Cangussu, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC); e Ronaldo Corrêa Ferreira da Silva, do Instituto Nacional do Câncer ( INCA).
Mais informações: Patricia Chakur Brum, e-mail pcbrum@usp.br , e Rafael Deminice, e-mail rdeminice@uel.br .