Legado americano da guerra ao terror é de fracasso

Segundo a professora Arlene Clemesha, a ocupação americana no Afeganistão encerra-se sem conquistar nada do que pretendia em seu início

 13/09/2021 - Publicado há 3 anos
Com a volta ao poder do Talibã, no Afeganistão, o clima de incerteza volta a pairar sobre o Oriente Médio – Fotomontagem por Rebeca Alencar com imagens de Pxhere e Wikimedia Commons

 

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Há 20 anos, ocorreram os atentados contra o World Trade Center, nos Estados Unidos. O ataque terrorista, em 2001, é o maior já ocorrido em solo americano e levou o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, a autorizar a invasão do Afeganistão e do Iraque, no que ficou conhecido como “guerra ao terror”. Vinte anos após o início da ocupação, os Estados Unidos retiram suas tropas do Afeganistão, abrindo espaço para o Talibã reassumir o controle da região.   

Arlene Clemesha – Foto: IEA-USP

“A posição americana no mundo vem se transformando, e a saída derrotada dos Estados Unidos do Afeganistão sinaliza claramente essa retração dos Estados Unidos, que é muito significativa”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição a professora de História Árabe Arlene Clemesha, do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A professora ilustra essa derrota dos Estados Unidos, que acontece no contexto em que a administração do presidente Joe Biden decidiu priorizar a crise econômica interna do país em deferência aos gastos militares. “O que ele sinalizou foi uma transformação dessa política, não foi exatamente o fim dela”, afirma a professora, que explica que a retirada de tropas não encerra as interferências que o país possa ter na região. 

O legado americano da guerra ao terror é de fracasso, encerrando-se sem conquistar nada do que pretendia quando da ocupação. Negociações de retirada de tropas, iniciadas pelo presidente Donald Trump, nunca envolveram o governo implementado pelos Estados Unidos no país ou sua permanência, somente sendo acertado uma trégua com o Talibã para evitar ataques contra as tropas americanas. Na realidade, a saída dos Estados Unidos da região só solidifica a expansão da influência do Irã, que possui posições antiamericanas sobre países da região. “A gente está falando de uma derrota dos Estados Unidos em todos os planos, impulsionada e acelerada por sua política de guerra ao terror no Oriente Médio que fracassou”, afirma Arlene.

Com a volta ao poder do Talibã no Afeganistão, o clima de incerteza volta a pairar sobre o Oriente Médio. Para a professora, a ascensão do Talibã não significa necessariamente um avanço do terrorismo sobre o mundo. Apesar da tomada de poder violenta realizada pelo grupo, ela conta que as intenções do Talibã é de se colocar como um governo de estabilização regional, impedindo a expansão de movimentos jihadistas e salafistas, como o Estado Islâmico e a Al Qaeda no Afeganistão. Mesmo com essa intenção, Arnele classifica essa tentativa do Talibã de colocar-se como estabilizador na região como algo difícil de ocorrer, devido a dúvidas sobre o real poder que o grupo possui, até mesmo pelas cisões internas que, devido a diferentes opiniões, ocorrem dentro do grupo. “Ele quer se colocar como um governo legítimo, conquistar essa legitimidade, esse lugar no jogo de poder e econômico regional”, conclui a professora.


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