“Nós estamos vendo uma explosão de conflitos dos mais diversos”

A fala é do professor Sérgio Adorno, na opinião de quem a violência é utilizada como uma forma de impor a vontade de uns sobre os outros, e uma das maneiras de lidar com isso é através de políticas públicas

 17/08/2021 - Publicado há 3 anos
Os mecanismos de resolução pacíficos acabam ficando de lado em detrimento da violência – Arte sobre foto de 123/RF

 

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A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) vai sediar o evento Sociedades Violentas, que acontecerá no dia 18 de agosto. O encontro irá discutir os diferentes usos da violência nas sociedades modernas e as possíveis soluções para lidar com as problemáticas decorrentes dela. O tema será abordado sob dois pontos de vista, o da violência estatal, exercida por polícias e outros agentes do Estado, e o da violência exercida por atores sociais, das milícias aos movimentos sociais.

“Em muitas sociedades contemporâneas, a violência é utilizada como uma forma de impor a vontade de uns contra a vontade de outros, ou como uma forma de resolução de conflitos que, de alguma maneira, causam prejuízos à integridade de quem quer que seja”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o  professor Sérgio Adorno, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenador do programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp sobre Estudos da Violência, sediado no Núcleo de Estudos da Violência da USP. O professor é um dos palestrantes do evento.

Sérgio Adorno – Foto: NEV/USP

De acordo com Adorno, apesar de a sociedade atual ter sido construída sobre bases que se guiam por horizontes de pacificação, ou seja, de limitar as chances de exclusão de conflitos, tal modelo não corresponde ao cenário que encontramos hoje no mundo. “Nós estamos vendo uma explosão de conflitos dos mais diversos”, diz o professor, ressaltando que os mecanismos de resolução pacíficos acabam ficando de lado em detrimento da violência. Isso acaba causando uma sensação de medo na população, que sente seu estilo de vida e segurança em jogo. O cenário é considerado preocupante, pois a resposta das forças institucionais do Estado para conter a violência é tão violenta quanto a violência endêmica na sociedade. 

Segundo o professor, um dos maiores dilemas contemporâneos está em torno do uso da força pelos agentes de proteção do Estado. A atribuição dos agentes policiais é exercer a força quando é necessário assegurar a ordem e o direito à vida, assim como a integridade do maior número de pessoas. Adorno diz que não é isso o que acontece na história da sociedade brasileira, em que se vê frequentemente o uso da força letal com mortes, muitas vezes de pessoas que nem estão respondendo na Justiça, sendo que esse é um dos grandes desafios a serem enfrentados. “A polícia tem a prerrogativa de utilizar a força, mas não indiscriminadamente, contra os limites estabelecidos pela lei”, diz ele.

O professor coloca que existem caminhos para resolver as questões ligadas ao estado geral da violência. Ele destaca que as soluções não são fáceis e requerem políticas públicas de curto, médio e de longo prazo e que podem até chegar a atravessar gerações. Ele afirma que sociedades que possuem padrões de segurança pública satisfatórios são as que, durante anos, promoveram mudanças nas suas instituições, tornando-as confiáveis na opinião dos cidadãos.


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