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“O ensaio Des-Habitat é uma releitura do arquiteto e curador Paulo Tavares da revista Habitat, que foi uma publicação de artes e design editada pela arquiteta Lina Bo Bardi nos anos 1950”, comenta Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens, na Rádio USP (clique e ouça o player acima). “Importante lembrar que Lina Bo Bardi é a estrela da Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano, recebendo o Leão de Ouro póstumo pelo conjunto de sua obra.”

A revista Habitat circulou até 1965 como uma publicação de arte e arquitetura moderna. “Mas um dos diferenciais da revista era veicular também artesanato popular e artefatos indígenas”, salienta Giselle. “Esse tipo de cobertura, na época, era inédita no País.”

Seis décadas depois, Paulo Tavares lança Des-habitat, publicada pela N-1 Edições. “Tavares resignifica imagens e imaginários dominantes da revista, colocando em pauta a colonialidade da arquitetura moderna e suas mídias, abrindo um horizonte para a potencial descolonização de seus legados”, explica a colunista. “Des-habitat interroga o contexto a partir do qual essas imagens surgiram como significantes modernos nas páginas da revista.”

Na avaliação da professora, isso envolve observar como políticas de Estado de pacificação de grupos indígenas, que forçaram deslocamentos e apropriação de terras, levaram à circulação de artefatos indígenas e suas imagens para as elites urbanas. “São incríveis os cruzamentos feitos sobre, por exemplo, um ensaio fotográfico sobre os karajás, publicado na revista em 1957, com as políticas de Juscelino Kubitschek, o imaginário da construção de Brasília e o vocabulário visual da pintura histórica brasileira. Isso em conjunto permite compreender como a linguagem visual moderna e modernista, tão presente na revista Habitat, funcionava como um protocolo de enquadramento que ocultava o contexto colonialista dessas políticas, bem como sua própria perspectiva cúmplice.”

Mais informações sobre a edição:

https://www.n-1edicoes.org/des-habitat

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