Chile se destaca na agenda de políticas de nutrição

País avançou para conter índices altos de obesidade e foi pioneiro ao adotar rotulagem nutricional de advertência nos alimentos ultraprocessados; modelo não foi adotado pelo Brasil

 08/06/2021 - Publicado há 3 anos
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Produtos alimentícios no Chile devem adotar rotulagem nutricional de advertência frontal – Fotomontagem com imagens de Freepik e Pixabay

 

Em 2016, o Chile se tornou o primeiro país do mundo a adotar uma rotulagem nutricional de advertência frontal. Isso significa que os alimentos processados e ultraprocessados disponíveis para consumo no país devem estampar, obrigatoriamente, um octógono preto nas embalagens, indicando as quantidades excessivas de açúcar, gordura e sódio. 

A lei chilena de rotulagem nutricional fez parte de um projeto político para combater os altos índices de obesidade no país, principalmente a obesidade infantil. Outra medida foi a proibição da publicidade televisiva de alimentos ultraprocessados, com excesso de calorias, das 6h às 22h, tanto para TV aberta quanto fechada. As embalagens dos alimentos não podem, também, estampar personagens infantis, desenhos ou outros atrativos voltados ao incentivo do consumo. 

No Brasil, essa questão da rotulagem nutricional foi discutida pela Anvisa por seis anos, de 2014 a 2020. A decisão final, tomada em outubro do ano passado e que entra em vigor a partir de outubro de 2022, foi a de usar uma rotulagem frontal em formato de lupa para alertar sobre o alto teor de nutrientes considerados críticos para a saúde, diferente daquela adotada pelo Chile — que inspirou regulamentação em outros países latino-americanos, como Peru, Uruguai e México.

Brasil seguiu caminho diferente

Demos um passo em relação à rotulagem, mas, infelizmente, não adotamos o modelo de perfil nutricional adotado nesses países”, diz Daniela Neri, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens), que acompanhou o processo de decisão da agência. 

Rotulagem determinada pela Anvisa

 

O modelo de lupa adotado no Brasil difere tanto daquele recomendado pelos principais pesquisadores de alimentação e nutrição, incluindo os chilenos, quanto por instituições como a Organização Mundial da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde. 

O Chile, segundo Daniela, é um país que vem se destacando na agenda de políticas de nutrição. “Não só por ter aprovado o sistema, mas por já ter colhido informações demonstrando o impacto positivo dessas mudanças tanto em relação ao consumo desses alimentos ultraprocessados pelas crianças, mas também quanto ao que já regulou no mercado de alguma maneira, para que os fabricantes pudessem melhorar a qualidade da produção.”

O consumo de bebidas açucaradas por domicílio, por exemplo, diminuiu em 23,7% quando comparado ao período anterior ao da regulamentação, o que representaria uma redução de 22,8ml por pessoa por dia. Esses são resultados de um estudo de 2020, publicado na PLOS Medicine, com pesquisadores do Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos da Universidade do Chile, do Instituto Nacional de Saúde Pública do México e da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Crianças são as maiores consumidoras de ultraprocessados

Daniela Neri – Foto: Reprodução/Fapesp

No Chile, o pacote de mudanças na área nutricional — que inclui a regulação da publicidade direcionada ao público infantojuvenil — veio justamente dessa necessidade de conter o avanço da obesidade, já que cerca de 70% da sua população está em situação de sobrepeso.

A população infantil, como destaca Daniela, é a maior consumidora de alimentos ultraprocessados, reconhecidos pela baixa qualidade nutricional e que contribuem, também, com os índices de obesidade. “A criança realmente precisa ser protegida da publicidade desses alimentos”, destaca a pesquisadora. 

O Atlas da Obesidade Infantil no Brasil, de 2019, mostra que três a cada dez crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso. A previsão da Organização Mundial da Saúde é que o Brasil esteja na quinta posição no ranking de países com o maior número de crianças e adolescentes com obesidade, em 2030, caso medidas efetivas não sejam tomadas.


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