Reabilitação do HC dá ferramentas para paciente superar incapacidades

Linamara Batistella diz que o modelo utilizado pelo Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas “influencia a política de saúde do Brasil e do Estado de São Paulo” 

 24/09/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 03/10/2019 as 12:32
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O mais importante estudo epidemiológico em nível global, Global Burden Disease (GBD), considera a medicina física e reabilitação como uma intervenção necessária em muitas doenças crônicas. As tecnologias mudaram a história da incapacidade, no Brasil em especial. O Instituto de Medicina Física e Reabilitação (IMRea) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina está à frente tanto na tecnologia como na atenção aos pacientes com alguma deficiência.

Outro aspecto é a experiência do paciente, o valor em saúde é uma preocupação dos médicos fisiatras. O tema é cada vez mais importante quando falamos em investimentos na área da saúde. Por isso, é um dos focos na formação de especialistas que cursam os programas de pós-graduação na Faculdade de Medicina e no Imrea. “A intervenção do médico fisiatra beneficia 72% de todos os dias vividos com alguma incapacidade”, aponta a professora da Faculdade de Medicina Linamara Rizzo Batistella, vice-presidente do Conselho Diretor do IMRea, citando o importante periódico de saúde Lancet.

A economia da saúde tradicional trabalha o valor como custo inicial do tratamento. Linamara defende que essa perspectiva é ultrapassada. “Quando o paciente retorna para a sociedade, ele tem condições de devolver aquilo que foi investido nele na forma de terapia”, afirma.  Sem a reabilitação, essa pessoa poderia ficar restrita a um leito. A medicina física permite então que ela volte ao mercado produtivo. “Dá ferramentas para superar a incapacidade”, alega a médica.

Ainda sim, a professora aponta as barreiras que as pessoas com deficiência podem encontrar. São empecilhos do cotidiano. A calçada irregular, a escada onde deveria haver rampa. A sociedade, embora avance, apresenta bloqueios no âmbito das atitudes. “Não conhecemos e não conseguimos entender amplamente as diferenças do paciente. A experiência dentro do Centro de Reabilitação serve para empoderá-lo. Visa à necessidade de inclusão”, esclarece.

O Global Burden Disease (GBD), e demais pesquisas comandadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que a reabilitação, não só na fase aguda da doença, como também nos cuidados posteriores na internação e no período ambulatorial, reduz muito o tempo de tratamento e diminui a necessidade de reinternações. “O Imrea já ratificava essa lógica. Essa foi a razão pela qual fomos convidados a coordenar o grupo de diretrizes em reabilitação da OMS”, conta Linamara.

Os avanços tecnológicos melhoraram as técnicas de terapia, assim como as de diagnóstico. “Entendendo se a lesão é relacionada ao sistema nervoso, ou ao locomotor, nos permite atuar de forma global”, explica a médica. Desta maneira, os profissionais da saúde compreendem a sequela e entendem a capacidade do paciente de adaptar seu organismo para superar a lesão, de acordo com ela. “Mapeamento cerebral por estimulação magnética, ressonância magnética funcional, todas as tecnologias diagnósticas nos ajudaram a entender melhor como funciona o cérebro da pessoa com incapacidade”, indica.

“Quando se chega ao limite máximo do tratamento, o paciente pode sair de uma locomoção assistida para um estímulo elétrico funcional, ou uma órtese mecânica que suporte sua marcha com mais segurança”, discorre a professora, falando de possíveis ferramentas. De olho no desenvolvimento  dessas tecnologias, o Imrea tem parcerias com a Escola Politécnica (Poli) e a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. “E também com grupos internacionais. Harvard é uma parceira histórica em muitos projetos de pesquisa”, diz a docente. Para além do tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão), o instituto tem na inovação uma quarta prioridade.

Em conjunto com o Massachusetts Institute of Technology, o Imrea desenvolve uma análise das atividades cerebrais de pessoas que passaram por amputações. “Buscamos compreender não a falta do membro, mas sim a pessoa, a fim de montar uma estratégia voltada àquele paciente”, ressalta Linamara. “Às vezes, basta simplesmente um treino funcional para que ele readquira a condição de deslocamento”, completa.

O Global Burden Disease é um documento histórico dentro do movimento de cobertura universal de saúde, segundo a médica. A OMS publicou o Reabilitação 2030: um chamado à ação, do qual participaram mais de 400 pesquisadores, dos quais o Imrea foi destaque. “Nosso modelo certamente influencia a política de saúde do Brasil e do Estado de São Paulo, e agora está ratificado pela objetividade dos resultados”, se orgulha Linamara. Como todo o HC, o instituto é líder em atendimento à população, além de formar profissionais para toda a área de atenção global em reabilitação.


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