Eletroconvulsoterapia é alternativa em casos graves de depressão

Especialista defende uso da ECT em casos avançados e com resistência a medicamentos

 20/02/2019 - Publicado há 5 anos
Por

jorusp

O documento preparado pelo governo que dá sinal verde para a compra no SUS de aparelhos de eletroconvulsoterapia (conhecido como eletrochoque) será revisto. Em meio às críticas, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o texto está em discussão e poderá ter alguns tópicos alterados. Essa forma de tratamento volta a ganhar destaque entre pacientes e especialistas. Com impulsos elétricos mais leves que os utilizados no começo do século 20, a eletroconvulsoterapia (ECT) poderia ser considerada já na terceira rodada de tratamento para a depressão, quando outros dois medicamentos não funcionarem. O trabalho, feito pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revisou estudos sobre o tema.

Jornal da USP no Ar conversou com Sérgio Rigonatti, coordenador do Serviço de Eletroconvulsoterapia do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O especialista admite tratar-se de uma terapia ousada, utilizada como último recurso, em casos em que todos os outros tratamentos falharam, mas defende que a técnica possui resultados muito bons, com 98% dos pacientes resistentes apresentando melhoras evidentes, de acordo com a avaliação de escalas internacionais.

Uma ilustração representando terapia eletroconvulsiva – Ilustração: BruceBlaus via Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0

A maioria dos pacientes apresenta melhora entre 8 e 12 sessões e pode retornar ao psiquiatra de origem  e retomar o dia a dia. Em alguns casos, é necessário fazer o chamado “tratamento de manutenção” para reforçar o fluxo dos neurotransmissores, mas em outros é possível nunca mais voltar a precisar do tratamento. Rigonatti explica que isso se deve a questões genéticas, mas que a maior parte dos pacientes costuma continuar apenas com o tratamento medicamentoso. Ele destaca a ocorrência de casos em que, antes da eletroconvulsoterapia, uma determinada medicação não funciona, mas depois do tratamento passa a funcionar, como se as bombas nas membranas dos neurônios passassem a captar melhor as moléculas necessárias para a melhora do funcionamento cerebral.

A principal indicação do tratamento é para casos de depressão, mas ele pode ser aplicado também para casos psicóticos resistentes à medicação, quadros alucinatórios graves e durante a gravidez, quando o tratamento tradicional, com medicação, poderia ser passada pelo feto através da placenta. Atualmente são utilizadas “ondas quadradas”, pequenas quantidades de eletricidade que protegem a memória do paciente, abandonando a corrente elétrica alternada, que trazia maiores malefícios.

Quanto às contraindicações, o especialista elucida que, antes de iniciar o tratamento, é necessário realizar uma série de exames para garantir que a ECT é adequada ao caso e que ela não é indicada em casos de dependência química. O doutor alerta que a grande questão é que se realize uma boa triagem, já que, quando bem indicado, o tratamento funciona. Para garantir essa triagem adequada com o aumento da demanda, o IPq pretende oferecer cursos sobre o tema.

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