Internet ganha força e polêmica nas campanhas eleitorais

Alterações nas normas e restrições de gastos e tempo de propaganda eleitoral levam a meios menos tradicionais

 05/10/2018 - Publicado há 6 anos

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O primeiro turno das eleições acontece no domingo, dia 7 de outubro, quando vamos escolher presidente da República, governador, dois senadores, deputado estadual e deputado federal. Sob o impacto da propaganda eleitoral em rádio, TV e redes sociais, pesquisa de intenção de voto, manifestações de rua e debates entre os candidatos, as eleições ocorrem em um cenário de desencanto com a política e de ódio à corrupção. Para os especialistas, estas eleições têm características próprias, muito diferentes das anteriores em vários aspectos. Apesar da prevalência das atenções na disputa pela Presidência, será de extrema importância nossas escolhas para o Congresso, de onde vem o apoio necessário para a aprovação de medidas de interesse da sociedade.

O professor Glauco Peres, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, conta que há uma série de aspectos que tornam essa eleição distinta das demais. Um deles é o desânimo e desencanto dos eleitores diante das opções de candidatos e com a política em geral. Outro aspecto é que o tempo reduzido de campanha que vigora nestas eleições, assim como o de propaganda eleitoral gratuita e o teto dos gastos com ela, fizeram com que, para essa campanha, os partidos tivessem de recorrer a meios menos tradicionais para veiculação de suas propostas de governo, como a internet, com ênfase nas redes sociais.

Usuário lendo notícias no computador – Foto: Cecília Bastos

Ainda sobre essa crescente veiculação no meio on-line, Peres explica que é difícil mensurar o quanto de fake news é disseminado, devido ao alcance que as notícias têm na internet: se antes elas corriam apenas entre as pessoas, com a internet e as redes sociais a projeção que ganham é muito grande. Exemplo disso são as montagens de imagens de protestos no Facebook e as correntes de WhatsApp. Para o professor, essas novas ferramentas de disseminação de informações, verdadeiras ou não, têm grande impacto em como as pessoas enxergam o processo das eleições. Ele explica, ainda, que as fake news reiteram e confirmam aquilo que o eleitor já acredita, ainda que não seja verdade, e por isso são tão perigosas.

Outra forma de veiculação e influência são as pesquisas eleitorais. Elas trazem ao eleitor informações sobre como está a corrida pelo cargo, o que dá a ele a oportunidade de pensar seu voto de forma estratégica – seja por afinidade ou por voto útil. Quanto aos debates, a influência é menor, segundo Peres, dado à forma como o discurso dos candidatos é construído: muito menos espontâneo e muito mais controlado, o que leva o eleitor a reforçar aquilo que acredita.

O professor afirma, ainda, que o recente atentado ao candidato Jair Bolsonaro acende ainda mais a discussão sobre a segurança pública. Para ele, o evento serviu para relembrar a população do quão frágil é a questão no País, além de ajudar o ex-deputado a ganhar muito mais espaço na mídia devido à atipicidade do acontecimento.

Por fim, o cientista político comenta sobre as escolhas para o Congresso, tão importantes quanto a do presidente. Ele explica que escolher representantes no Legislativo é uma das tarefas mais difíceis na democracia do País, por serem eleições simultâneas – serão cinco eleições diferentes, e ao mesmo tempo, no domingo -, que torna o processo informacional muito custoso, no sentido de entender a função de cada cargo e qual sua posição no cenário político.  Além disso, a grande quantidade de candidatos – em São Paulo, são aproximadamente 1.600 candidatos a deputado federal – também torna a escolha mais complicada. O professor conta que são necessários atalhos (por partido, gênero, ou qualquer outro filtro) para essa escolha, dada a monumental tarefa que seria conhecer os candidatos um por um. Ele conta que a escolha por partido tende a ser positiva, pois fortalece a legenda partidária; no entanto, há um problema nessa eleição: o voto não vai apenas para o partido e sim para a coligação partidária, o que significa eleger candidatos de outros partidos.

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