Livro discute a imagem na fotografia, no cinema e na pintura

Marcos Fabris e Patrícia Kruger propõem uma nova reflexão sobre a imagem nas artes e na literatura

 14/08/2018 - Publicado há 6 anos
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Imagens de filmes de Lars von Trier, comentadas no livro Imagem & HistóriaOndas do Destino (Breaking the Waves, 1996, Zentropa Entertainments), Anticristo (Antichrist, 2009, Zentropa Entertainments) e Melancolia (Melancholia, 2011, Zentropa Entertainments)

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O livro Imagem & História, lançamento da Editora Beca, traz um debate necessário sobre a utilização da imagem no âmbito da pintura, fotografia, cinema, dança e também na literatura. Os organizadores Marcos Fabris e Patrícia Kruger são pós-doutores pela USP, com pesquisas realizadas no Museu de Arte Contemporânea (MAC) e na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Especialistas no estudo da fotografia e da imagem, partilham com o leitor uma investigação da construção imagética que vai muito além das noções convencionais de representação.

O ensaio de Fabris é o primeiro dos oito artigos. Analisa a relevância e a contribuição de uma emblemática exposição, Magiciens de la Terre, apresentada em 1989, em Paris, que reuniu artistas de diversos países e foi considerada uma das mais importantes do século 20. “A mostra inaugura uma abordagem e um estilo de exposição internacional inéditos e de grande envergadura”, explica o autor. “Ou seja, não apenas abre espaço efetivo para a arte produzida nos cinco continentes, mas almeja, ao menos em teoria, sua equiparação em termos qualitativos.”

Imagens do filme Europa, de Lars von Trier (Europa, 1991, Nordisk Film) – Foto: Reprodução

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A mostra defendeu, como ressalta Fabris, “o reconhecimento público do valor artístico e cultural da arte não ocidental em pé de igualdade com a arte produzida no circuito Londres-Paris-Nova York e adjacências”. Uma iniciativa considerada louvável e que delineou as exposições internacionais da sociedade contemporânea, inclusive a Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Patrícia Kruger traz reflexões sobre a criação e utilização de imagens no cinema no ensaio em que destaca os filmes do cineasta dinamarquês Lars von Trier. Segundo a pesquisadora, o cineasta “tem constantemente travado relações com outros segmentos da cultura e das artes, como a filosofia, as artes plásticas, a ópera, a música pop, a dramaturgia e a literatura”.
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Mário de Andrade foi um fotógrafo excepcional; pode ser considerado, salvo engano, o primeiro fotógrafo vanguardista brasileiro.

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Pedro Fragelli, pós-doutorando do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, que se dedica à obra de Mário de Andrade, apresenta um trabalho inusitado do escritor: a sua produção fotográfica na Amazônia. “Mário de Andrade foi um fotógrafo excepcional; pode ser considerado, salvo engano, o primeiro fotógrafo vanguardista brasileiro”, destaca Fragelli. “O interesse da produção fotográfica de Mário de Andrade, contudo, reside não apenas no vanguardismo que a distingue da fotografia brasileira de seu tempo, mas também – e sobretudo – no fato de que a ótica modernista é empregada para retratar sociedades ditas atrasadas.”

Campo de concentração de Buchenwald em 16 de abril de 1945 (National Archives Catalog, Public Domain); corpos de prisioneiros sendo transportados de Buchenwald em um trem da morte para Dachau em 28 de abril de 1945 (Wikimedia Commons, Public Domain); dormitório coletivo de judeus no campo de concentração de Buchenwald, 1945 (National Archives Catalog, Public Domain)

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O ensaio de Gabriela Siqueira Bitencourt, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, analisa o romance Manhattan Transfer, do escritor norte-americano John Dos Passos, publicado em 1925 nos Estados Unidos. “Na fatura descontínua de seu romance, incorporou elementos da vida cotidiana, como canções populares, manchetes de jornais, slogans e propagandas que, durante a Guerra Civil, deixaram de cobrir apenas as paredes de tavernas e estalagens para tomar os muros das cidades”, explica Gabriela. “Diante disso, o objetivo deste artigo é demonstrar como a apropriação da imagem de uma propaganda da virada do século sobrepõe ao tema explícito do romance um conjunto de conteúdos que condensam, em sua imagem, a ideologia e a história do país.”

Fotografias exibidas junto aos créditos finais de Dogville, de Lars von Trier (Dogville, 2003, Zentropa Entertainments)

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Marcos César de Paula Soares, professor do Departamento de Letras Modernas da FFLCH, pesquisa o filme Verdades e Mentiras (1976), dirigido por Orson Welles. Soares observa que “passados mais de 40 anos de seu lançamento, o filme parece não ter envelhecido e suas reflexões sobre o estatuto do real e os modos de sua apreensão histórica através das formas artísticas continuam complexas e pertinentes em um momento no qual a obsessão pelo ‘real’ parece dominar parte importante da produção audiovisual mundial”.
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As coreografias estão sempre prestes a desaparecer. Talvez por isso a fotografia tenha se interessado tanto pela dança ao longo de sua história.

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Jane Silveira de Oliveira, doutoranda do Departamento de Letras Modernas da FFLCH, faz uma análise sobre as relações entre imagem e história no campo da dança. “Na forma de memórias e experiências compartilhadas, as coreografias estão sempre prestes a desaparecer”, observa. “Talvez por isso a fotografia tenha se interessado tanto pela dança ao longo de sua história, apesar da aparente incompatibilidade entre as duas artes: a dança ocorre no tempo e no espaço e a fotografia congela o instante em imagens de duas dimensões.” Nesse contexto, propõe a análise das fotos de Robert Fraser em um concerto da coreógrafa e bailarina Martha Graham, em 1937.
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Capa do livro recém-lançado – Foto: Divulgação / Editora Beca (Clique na imagem para ampliar)

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O ensaio de Paula Barbosa, doutora em Literatura Brasileira pela FFLCH, analisa os romances Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953), sob o olhar de José Lins do Rego. “Glauber valoriza na obra do escritor paraibano o suporte memorialista de seus romances, o que possibilitou o aproveitamento de seu contato direto – muitas vezes filtrado pela sensibilidade infantil – com a realidade figurada”, esclarece a autora.

Daniel Santos Garroux, doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, demonstra, “por meio do comentário de obras e do recurso a um cabedal teórico não especializado”, como ele próprio esclarece, três momentos da formação da pintura francesa do século 18, procurando depreender algumas das consequências desse processo na crítica do Salão de 1765, de Denis Diderot.

Imagem e História, de Marcos Fabris e Patrícia Kruger (organizadores), Editora Beca, 224 páginas, R$ 40,00.


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