“Mais uma novidade no campo da IA está chegando e vai impactar profundamente nossas concepções de audiovisual”. A afirmação de Giselle Beiguelman está ligada ao Sora, novo modelo de linguagem da OpenAi, desenvolvedora do ChatGPT, o qual permite criar vídeos de até 60 segundos a partir de textos. Ela frisa que não é a primeira incursão das empresas de inteligência artificial nesse campo, mas a “precisão dos vídeos que vêm sendo liberados pela OpenAi e o terremoto que a empresa causa com a eficiência de seus aplicativos colocou o assunto definitivamente na pauta do dia”.
Acima de tudo, de acordo com ela, é importante discutir a transformação de princípios caros ao audiovisual, “entre os quais podemos destacar a máxima de Glauber Rocha: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Essa definição, tão importante para a elaboração do Cinema Novo brasileiro, em breve será atualizada como um prompt na tela e uma ideia na cabeça. Esse tópico tem ocupado os semioticistas e mestres da poesia concreta e visual há décadas. Julio Plaza, que foi professor aqui na USP, definiu o conceito de tradução intersemiótica, resultado de sua tese de doutorado no programa de Comunicação e Semiótica da PUC de São Paulo, onde foi orientado pela professora Lucia Santaella e aluno de Haroldo de Campos”.
A partir dessa tese, publicada em livro pela Editora Perspectiva, pode-se constatar que a tradução é um processo que não se dá apenas entre línguas, mas entre linguagens, como do texto à música, da música ao cinema, da palavra à imagem. “Isso nos mostra que o audiovisual baseado em comandos de texto pode ser uma revolução muito mais profunda que apenas o virtuosismo técnico implicado no desenvolvimento dos novos modelos de IA […] ainda é cedo para dizer qual será a direção que o audiovisual tomará a partir dessa guinada histórica. Mas uma coisa é certa: se eu tivesse que dar um conselho para como se preparar para essa revolução, eu diria: voltem a estudar semiótica”.
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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