O vazamento de um esboço de voto sobre o aborto pela Suprema Corte Americana tem sido o grande destaque recente na imprensa americana, a ponto de o professor Carlos Eduardo Lins da Silva considerá-lo um dos maiores assuntos sobre a imprensa no ano, nos Estados Unidos, “porque é talvez o vazamento de informação mais importante desde os documentos do Pentágono, em 1971, e atinge um poder, o Poder Judiciário, que era sempre considerado inexpugnável; muito poucas vezes algum vazamento ocorreu na Suprema Corte norte-americana”. A revelação do documento vazado, de 98 páginas, coube ao site Político e a veracidade da informação foi confirmada pela própria Suprema Corte. Como resultado, foi anunciada a abertura de uma investigação para apurar como o documento chegou às mãos dos jornalistas.
Segundo Lins da Silva, na tradição americana, o responsável pelo vazamento pode ser enquadrado em crime e processado, mas o mesmo não ocorre com o jornalista que divulgou a informação. No entanto, ele pode ser chamado pela justiça como testemunha para dizer quem foi o autor do vazamento. “Se isso ocorrer e o jornalista não revelar quem foi a fonte dele, ele, jornalista, pode vir a ser processado por desrespeito à Corte”. E isso já aconteceu no passado, nos EUA, frisa o colunista. Independentemente de qualquer outra consideração, porém, o caso levanta a discussão sobre o tratamento que a imprensa local costuma dar às questões relacionadas ao aborto, não fosse o tema, por si só, um divisor de águas na sociedade norte-americana. “A possível revogação do direito ao aborto, que foi assegurado pela Suprema Corte quase cinco décadas atrás”, diz Lins da Silva, “vai colocar de novo esse assunto na pauta de uma forma bastante dramática”.
Lins da Silva argumenta que o tema levanta uma série de questões, que passam, entre outros aspectos, pelo direito à própria vida da mulher e sobre o próprio significado de se ser favorável ou contrário ao aborto.
Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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