Realocação da população local é a melhor solução contra as cheias do Jardim Pantanal

Para Pedro Luiz Côrtes, a área é naturalmente propensa a inundações e por isso precisa ser transformada em um parque de contenção de cheias

 Publicado: 06/02/2025 às 10:44
Visão aérea do Jardim Pantanal
O Jardim Pantanal foi ocupado de forma irregular a partir da década de 1980 – Foto: Jorge Maruta/USP Imagens
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O Jardim Pantanal, localizado na zona leste de São Paulo, é uma das regiões mais afetadas por enchentes, especialmente durante o período de chuvas intensas. A ocupação irregular em áreas de várzea, a infraestrutura insuficiente e as mudanças climáticas são fatores que agravam a situação, aumentando a vulnerabilidade da população local. Sem medidas efetivas de mitigação, as inundações podem se tornar cada vez mais frequentes e severas, intensificando os desafios sociais e ambientais na região.

O professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica que o Jardim Pantanal foi ocupado de forma irregular a partir da década de 1980. Atualmente, estima-se que entre 45 mil e 50 mil pessoas vivam na região, o equivalente à população de diversos municípios do interior paulista. O principal problema, para ele, é que a área está localizada sobre uma várzea do rio Tietê, que mantém muitas de suas características naturais e dificulta o escoamento da água.

Rio Tietê

Conforme o especialista, a percepção do rio Tietê na cidade de São Paulo pode ser enganosa. Apesar de seu traçado retilíneo em alguns trechos, resultado da retificação realizada para a construção das Marginais, o rio é originalmente meandrante, ou seja, cheio de curvas. Isso significa que ele carrega uma grande quantidade de sedimentos e tem baixa velocidade de escoamento. No Jardim Pantanal essa característica se mantém, tornando a área propícia a alagamentos naturais durante períodos de cheia.

Homem branco, ainda jovem, calvo e usando óculos
Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes

Outro fator preocupante é que há regiões do bairro que foram construídas sobre antigos meandros abandonados pelo próprio rio. Essas áreas, mapeadas há décadas pela Prefeitura de São Paulo, possuem ainda mais tendência a inundações. O professor explica que, uma vez que a água se acumula no bairro, o escoamento é extremamente lento, o que prolonga os períodos de alagamento.

Saúde pública

Além dos danos materiais, a saúde pública também é gravemente impactada pelas enchentes, visto que a permanência da água parada por vários dias aumenta o risco de doenças como a leptospirose. Côrtes alerta ainda para um problema pouco debatido: a contaminação da rede de distribuição de água. Devido a vazamentos na tubulação, há possibilidade de a água contaminada do rio se misturar à água potável, expondo os moradores a riscos adicionais.

“As medidas emergenciais, como a instalação de bombas para drenar a água, seriam ineficazes, pois a água teria que ser despejada no próprio rio, que já se encontra cheio. A construção de diques também foi cogitada, mas apresenta desafios técnicos e financeiros devido ao traçado sinuoso do Tietê”, analisa.

Para o docente, a solução mais viável seria a realocação da população para áreas seguras, seguida da transformação do Jardim Pantanal em um parque de contenção de cheias, alinhado ao conceito das “cidades-esponja”. Esse modelo busca preservar áreas de inundação natural, impedindo que sejam novamente ocupadas. No entanto, realocar entre 45 mil e 50 mil pessoas exige um planejamento robusto e investimentos expressivos em moradia, transporte, energia, saneamento, escolas e unidades de saúde.

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O professor observa que administrações municipais anteriores já tentaram transferir parte da população para outras regiões, mas muitas pessoas acabaram voltando devido à falta de infraestrutura nos novos locais. Para evitar que esse ciclo se repita, Côrtes enfatiza a necessidade de um plano de habitação popular de longo prazo, com participação conjunta do município, Estado e governo federal.

A falta de um planejamento habitacional adequado contribui para o crescimento das ocupações irregulares, muitas vezes impulsionadas por organizações criminosas que loteiam terrenos ilegalmente. De acordo com o docente, muitas famílias não desejam moradia gratuita, mas sim condições para adquirir um imóvel digno e seguro. “As pessoas não vão para essas áreas porque querem, mas por falta de opção”, afirma.

Diante desse cenário, o especialista conclui que somente uma política de habitação popular maciça e bem estruturada poderia, ao longo dos anos, reduzir a ocupação de áreas de risco e minimizar os impactos das enchentes. Enquanto isso, os moradores do Jardim Pantanal continuam expostos a inundações recorrentes, perdas materiais e riscos à saúde, aguardando uma solução definitiva para um problema que se arrasta há décadas.


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