A coluna do professor Renato Janine Ribeiro nesta semana é dedicada às eleições de domingo passado (6), que de cara trouxe como resultado o fortalecimento e o crescimento da extrema-direita, um fenômeno que teve início a partir do impeachment de Dilma Rousseff e, principalmente, a partir da campanha e eleição de Jair Bolsonaro, “que foi uma campanha e eleição totalmente fora dos cânones, porque ele mal tinha tempo, ele tinha 8 segundos na televisão e a televisão, na época – parece que foi ontem, mas foi há seis anos -, importava mais do que hoje, quando ela quase não vale mais grande coisa. Com isso, ele conseguiu ganhar, à mercê de vários fatores, inclusive a facada, com o fato de ele ficar no hospital, falando todo dia. Era um assunto jornalístico. Então tudo isso se destacou e ele conseguiu se eleger, com isso dando pela primeira vez na história do Brasil votos significativos ao nome de extrema-direita”.
Janine observa que o Brasil passou por uma ditadura de extrema-direita de 1964 a 1985, mas que ela nunca foi popular, apesar da vitória, em diferentes momentos da história política do País, de candidatos colocados mais à direita do espectro político, como Fernando Collor de Melo e Jânio Quadros, que não eram, no entanto, de extrema-direita como Bolsonaro. “Então, nós tivemos esse momento em que a extrema-direita cresceu e de lá para cá quem retoma esse papel, essa figura, esse personagem foi Pablo Marçal agora na eleição, repetindo também afirmações ofensivas como fazia o ex-presidente da República no seu longo trajeto de político profissional, três décadas sem nenhuma atuação, a não ser verbal e ofensiva; o Marçal fez a mesma coisa e conseguiu 30% de votos”, constata o colunista, que vê na ascensão do candidato algo com que se preocupar. “Será que o ódio realmente emplacou de vez na política? Isso não vale só para o Brasil, vale para Estados Unidos, com Trump, vale para a Europa, com vários líderes, inclusive alguns do governo que têm esse mesmo discurso de ódio. Nesses dias, na cidade do Porto, em Portugal, foi fechado pela força bruta de militantes de extrema-direita o órgão público que cuida da imigração. Eles dizem que não querem ter imigrantes enquanto os portugueses não tiverem uma série de direitos.”
Nesse ponto, Janine faz duas indagações que considera pertinentes: “Está esse discurso de extrema-direita emplacando? E por que o ódio se torna tão poderoso? Penso que a explicação básica, que poderia ser desenvolvida, é simplesmente a seguinte: quando as pessoas não têm futuro, quando não existem perspectivas pelas vias institucionais para que as pessoas tenham o que elas precisam ter – casa decente, comida, transporte, saúde, educação -, elas começam a apelar para as vias não institucionais, para as vias extraparlamentares ou até antiparlamentares, e aí a ideia do homem providencial fica forte. Não à toa, Marçal teve esse papel até mais do que Bolsonaro, porque ele aparecia como um vitorioso na vida privada, na vida empresarial […] enfim, essa expectativa de um “salvador” fora da política é muito preocupante e ela só pode ser resolvida se a política trouxer realmente ganhos para as pessoas melhorarem a vida delas, esse é o desafio que a gente tem”, conclui.
Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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