“A partícula meta vem do grego, chegou com toda a força à internet. Da meta gestão ao metagame, passando pelo metaverso e, claro, pela refundação do Facebook como meta. A própria internet é feita de metáforas, métricas e modelos de negócios, onde imperam a metagestão e, quando o empreendedor passa a se considerar um verdadeiro ícone, profeta ou coisa do gênero do alto das redes que ele controla, se autoproclama uma espécie de rei filósofo e se põe a espalhar asneiras supostamente metafísicas”, declara o professor Gilson Schwartz no início desta sua coluna, que tem como tema as tecnologias de informação e comunicação, “sob controle de aparatos militares e empresariais”. O colunista recomenda a leitura do livro Gaming Democracy, de Adrienne Massanari, cuja tese é a de que o Vale do Silício colocou a direita numa posição de indiscutível superioridade, “e não é apenas por conta da fortuna de Elon Musk, declaradamente um fascista, que está a um fio de se tornar o maior manipulador por trás do boneco Trump. Massanari mostra, além desses tipos exóticos, mas perigosos, porque acumularam centenas de bilhões de dólares nos moinhos eletrônicos do grande engenho, a história, e a própria raça humana, bastante identificados com a extrema-direita”, acrescenta.
“Meritocracia é um dos eixos dessa iconografia, que faz da internet a terra prometida da metafísica libertária – ninguém por todos e cada um por si -, uma minoria branca, machista, militarista e ressentida. Massanari, em seu livro, disseca essas conexões tecnológicas e semânticas, mostrando em todos os detalhes o metagame, que já está envolvendo todo o planeta em conflitos onde o desenrolar tem sido o fortalecimento da antidemocracia, do antiuniversalismo de esquerda e de direita, para não falar nos estados de pura confusão mental e messianismo, como negacionismo da vacina ou da mudança climática. É urgente ler Massanari e seguir confiante na possibilidade de uma internet mais democrática, ou seja, uma Iconomia, onde os ícones dos ODS da ONU ajudem a monetizar novas cadeias, sobretudo circulares, cadeias de valor de uso, de troca e valor do nosso futuro.”