A partir de uma entrevista de Daniel Ellsberg à rede árabe All Jazeera, na qual condenou o ataque russo à Ucrânia, a professora Marília Fiorillo especula a respeito da posição de neutralidade em tempos de guerra. Enquanto líderes políticos relevantes e a comunidade internacional não deixaram de “denunciar a barbárie promovida pela Rússia […] causa vergonha e constrangimento que o candidato à Presidência de um país da América do Sul venha a público sem pudor ou decoro para dizer que Zelensky ‘quis a guerra, pois se acha o rei da cocada’. Não contente com tal declaração estapafúrdia, ele deu o originalíssimo conselho de botar todo mundo para sentar e conversar, como se isso já não tivesse sido tentado dezenas e dezenas de vezes”, diz a colunista. “Capa da revista Time, esse candidato da nostalgia parece cada vez mais longe de si mesmo. Pena, e muito receio também de que o candidato nos reserve outras surpresas análogas a essa incapacidade de distinguir vítima e agressor. O que mais será que ele não saberá distinguir?, essa é a grande pergunta”, acrescenta Marília, antes de concluir: “Em casos como os de Bush e Tony Blair no Iraque, do sérvio Milosevic nos Balcãs ou de Putin na Ucrânia, não há neutralidade – neutralidade, nesses momentos, é cumplicidade com o agressor”.
A propósito: Ellsberg, nos anos 1970, foi responsável por revelar documentos secretos do Pentágono sobre as ilegalidades dos americanos na Guerra do Vietnã. Na entrevista concedida à rede Al Jazeera, ele argumenta que, nas guerras, independentemente dos resultados, só há um vencedor: a indústria armamentista, que, no entender da colunista, deve agradecer a Putin por mais essa oportunidade de auferir lucros. “Bilhões de dólares em munição e armamentos já foram enviados à Ucrânia, com a grande vantagem, desta vez, de a América não precisar exportar os seus soldados.”
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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