“Jogo do tigrinho.” Essa espécie de caça-níquel on-line ficou muito famosa nas redes sociais — seja por memes ou pela quantidade de dinheiro que os divulgadores alegam receber —, mas não é sobre ele que esse texto trata. É preciso voltar às raízes das apostas, os famosos cassinos. E, não somente isso, a relação deles com o turismo.
Origem
“Segundo os pesquisadores Maria Chaves, Bruno de Oliveira e Raiane de Lima, do Instituto Federal de São Paulo, e Valéria Fedrizzi, da Universidade de Coimbra — autores do artigo O Cassinismo Como Fator de Desenvolvimento Turístico, apostas baseadas na sorte sempre estiveram presentes na história, existindo estudos que comprovam sua existência entre sumérios, egípcios e romanos, há milhares de anos”, explica Vítor Silva Freire, doutorando em turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Foi em 1574 que o primeiro modelo do cassino contemporâneo surgiu em Florença, na Itália. Mas, hoje, eles estão presentes em diversos países — legal ou ilegalmente. “Os cassinos ganharam popularidade na segunda metade do século 20, quando passaram a funcionar no Estado de Nevada, nos Estados Unidos, onde fica a famosa cidade de Las Vegas”, acrescenta o pesquisador.
No cenário brasileiro, os autores pontuam quatro fases da presença dos cassinos: a implantação em 1808, proibição pelo presidente Venceslau Brás em 1917, a liberação por Getúlio Vargas em 1930 e, em seguida, outra proibição por Eurico Gaspar Dutra em 1946 — e essa dura até hoje.
Impactos
“Os pesquisadores destacam os estabelecimentos de luxo da cidade do Rio de Janeiro e a importância dos cassinos para expandir a atividade turística em cidades como Campos do Jordão, Santos, São Vicente, Guarujá, Araxá, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador e Recife”, diz Freire. Em Las Vegas, a receita do ano de 2023 atingiu a casa dos US$ 15,5 bilhões, segundo o Nevada Gaming Control.
Os pesquisadores Maria, Oliveira, Raiane e Valéria dizem no artigo que, enquanto era permitida, a prática de jogos foi positiva para a economia e movimentação turística, especialmente na região Sudeste, como o caso da cidade de Campos do Jordão (SP).
Mas é bom lembrar que a proibição não impediu os jogos de continuarem clandestinamente. Além disso, existem as empresas digitais que se instalam em países em que o jogo é permitido e recebem apostas on-line de brasileiros. “No Brasil, a estimativa é que o jogo legal — como as loterias — e o ilegal — como o jogo do bicho — movimentem cerca de R$ 50 bilhões por ano”, acrescenta.
Futuro
O pesquisador Igor Feitoza, da Universidade Federal Fluminense, entre outros, defende a retomada lícita e organizada dos jogos no País. Para ele, a implementação de complexos hoteleiros de jogos poderia trazer desenvolvimento econômico, social e cultural, especialmente a territórios menos favorecidos. Isso atrairia o turista não só pelo jogo, mas também por todo o complexo que envolve shows, eventos e atrações culturais.
“Mas seja por questões morais ou pelo receio que a existência de cassinos aumente os índices de criminalidade nas cidades — o que também é alvo de discussão —, esse é um assunto longe de ser unânime”, explica Freire.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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