Governo brasileiro retira nome de candidato à presidência do BID

Rubens Barbosa comenta sobre a eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em que os EUA decidiram apresentar candidato, em desacordo com as regras de criação do banco em 1959, por proposta de Juscelino Kubitschek

 11/08/2020 - Publicado há 4 anos

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Na coluna Diplomacia e Interesse Nacional desta semana, o embaixador Rubens Barbosa comenta sobre a eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), marcada para setembro. O Brasil havia apresentado um candidato, que poderia ser o primeiro brasileiro a ocupar a presidência do BID. “Eis que, de repente, os Estados Unidos decidiram apresentar um candidato: Mauricio Carone, ex-assessor de segurança nacional de Trump e líder de um lobby anticubano em Washington”, explica o colunista. 

O BID foi criado em 1959, por proposta de Juscelino Kubitschek, na Operação Pan-Americana, e, segundo Barbosa, houve um entendimento desde o início de que a sede do banco seria em Washington, mas que a presidência caberia sempre a um país sul-americano – o que sempre aconteceu ao longo dos anos. “Isso foi um entendimento amplo em relação aos bancos multilaterais: que os EUA ocupariam a presidência do Banco Mundial; a União Europeia (UE), a do Fundo Monetário Internacional (FMI); os bancos regionais seriam ocupados por países das respectivas regiões (África, Ásia, América Latina)”. 

A indicação de um presidente para o BID pelos EUA no lugar de um latino-americano é problemática na medida em que não atende aos interesses nem dos latino-americanos nem dos estadunidenses. “Se a eleição americana caminhar no sentido da eleição do democrata Joe Biden, a presidência ocupada por um amigo do Trump vai se chocar com as novas políticas americanas em relação à América do Sul”, diz Barbosa. 

Ele ainda chama atenção para a presença chinesa na região e o interesse americano para, por meio do apoio dos países latino-americanos, segurar essa crescente presença. “Essa política dos EUA me faz pensar na volta da Doutrina Monroe. O governo americano pode pressionar, por meio dos empréstimos do BID, para que o apoiem em sua política”.

O governo brasileiro aceitou a decisão dos americanos imediatamente e retirou o candidato brasileiro. Para o embaixador, essa não é a melhor solução: seria melhor adiar a solução prevista para setembro, na Colômbia, por seis meses – como têm também sugerido o Chile, o México, a Argentina e a própria UE –, a fim de esperar os resultados das eleições americanas. “Vamos ver qual vai ser a posição do Brasil”, completa.

Ouça a íntegra da coluna no player. 


Diplomacia e Interesse Nacional
A coluna Diplomacia e Interesse Nacional, com o professor Rubens Barbosa, no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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