Na coluna Diplomacia e Interesse Nacional desta semana, o embaixador Rubens Barbosa comenta sobre a eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), marcada para setembro. O Brasil havia apresentado um candidato, que poderia ser o primeiro brasileiro a ocupar a presidência do BID. “Eis que, de repente, os Estados Unidos decidiram apresentar um candidato: Mauricio Carone, ex-assessor de segurança nacional de Trump e líder de um lobby anticubano em Washington”, explica o colunista.
O BID foi criado em 1959, por proposta de Juscelino Kubitschek, na Operação Pan-Americana, e, segundo Barbosa, houve um entendimento desde o início de que a sede do banco seria em Washington, mas que a presidência caberia sempre a um país sul-americano – o que sempre aconteceu ao longo dos anos. “Isso foi um entendimento amplo em relação aos bancos multilaterais: que os EUA ocupariam a presidência do Banco Mundial; a União Europeia (UE), a do Fundo Monetário Internacional (FMI); os bancos regionais seriam ocupados por países das respectivas regiões (África, Ásia, América Latina)”.
A indicação de um presidente para o BID pelos EUA no lugar de um latino-americano é problemática na medida em que não atende aos interesses nem dos latino-americanos nem dos estadunidenses. “Se a eleição americana caminhar no sentido da eleição do democrata Joe Biden, a presidência ocupada por um amigo do Trump vai se chocar com as novas políticas americanas em relação à América do Sul”, diz Barbosa.
Ele ainda chama atenção para a presença chinesa na região e o interesse americano para, por meio do apoio dos países latino-americanos, segurar essa crescente presença. “Essa política dos EUA me faz pensar na volta da Doutrina Monroe. O governo americano pode pressionar, por meio dos empréstimos do BID, para que o apoiem em sua política”.
O governo brasileiro aceitou a decisão dos americanos imediatamente e retirou o candidato brasileiro. Para o embaixador, essa não é a melhor solução: seria melhor adiar a solução prevista para setembro, na Colômbia, por seis meses – como têm também sugerido o Chile, o México, a Argentina e a própria UE –, a fim de esperar os resultados das eleições americanas. “Vamos ver qual vai ser a posição do Brasil”, completa.
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Diplomacia e Interesse Nacional
A coluna Diplomacia e Interesse Nacional, com o professor Rubens Barbosa, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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